Quanto a ti, uma espada te transpassará a alma
Atualizado: 11 de abr. de 2022
Quantas pessoas enxergam a vida de uma forma peculiar, que, em seu pensamento, a vida não é para sofrer, mas para curtir e aproveitar ao máximo?
Um padre, amigo meu, me falou que a vida é representada muitas vezes pelo mar nas escrituras. O mar não é um laguinho, ele é profundo, sua extensão se confunde com o horizonte. Nele temos muitas vezes o imprevisível, o desafio. Diz o ditado antigo que em mar calmo não se formam marinheiros e talvez este seja o âmago da questão: Por quê entendemos que o sofrimento é algo ruim?
Maria, escolhida por Deus para ser a mãe do nosso Salvador, Jesus Cristo, se dá conta cedo da sua situação. Ora, uma menina que ficaria grávida mesmo sendo noiva de José, soube do risco que lhe era apresentado ao ficar grávida, pois, quem acreditaria que era por obra de Deus? Mas ela decidiu pelo seu Sim. E ao ouvir o anjo que lhe diz do milagre de sua prima Isabel estar grávida, aquela mesmo que era considerada estéril, e mesmo sabendo dos perigos da estrada e ciente que uma estrada difícil não era um bom lugar para uma grávida das primeiras semanas passar, ela foi ao encontro de sua prima Isabel...
Sim, Maria se mostra corajosa e confiante em diversas situações, pois se sentia agraciada e não se importou em viajar para Belém na sua gravidez mais avançada, não se importou em ficar em um local onde os animais estavam, e sabe-se lá o aspecto, cheiro e as dificuldades para ficarem ali, em total falta de aconchego.
E, depois, quando o anjo Gabriel anuncia a José, que teriam que ir para o Egito? Morar em terra afastada, com estranhos ao seu redor, além dos costumes e tradições diferentes dos seus...
Foram tantos momentos de dor na vida de Maria... ainda mais na hora da cruz! Viu o seu Filho sendo punido cruelmente pelos romanos. Também O vê carregando a cruz, coberto de chagas e irreconhecível, mas ela O reconhece e vai até ele, para dizer que estava ali, com Ele. E quando vê seu filho morto na cruz, e depois deitado, sem vida, em seu colo, quanta dor...
Mas, para o nosso entendimento e contemplação, refletimos alguns momentos da vida de Maria... mas não se engane, estes momentos acontecem nas vidas daqueles que buscam incessantemente ao Senhor, aos que são fiéis em seus propósitos e caminhos. Àqueles que se entregam inteiramente dedicando sua vida a um objetivo maior: Amar a Deus e ao próximo. Acredito que aconteça com você também.
"Ó mãe, dai-me a graça de estar contigo,
junto da Cruz, contemplando Jesus
que por nós se entregou e o pecado remiu.
Que tuas lágrimas sejam as minhas também,
que tuas dores sejam parte de mim, também"
1 - Profecias de Simeão (Lucas 2, 34-35)
Deus não se compraz na nossa dor. Ele nos oferece uma vida com perspectivas de alegria, mas sabe que a carne e o espírito são incompatíveis em muitos momentos, trazendo o sofrimento. Então, que saibamos viver o sofrimento no momento certo. Que vivamos sempre na alegria, mas sabendo que em momentos na nossa vida, sofreremos. Não devemos ignorar ou evitar o sofrimento, mas também não devemos mergulhar somente no sofrimento, como se não houvesse a vida, a alegria, que devemos compartilhar com os irmãos.
Com Maria não era diferente, as palavras de Simeão despertam Maria para o seu futuro. Ela era mãe de Deus e, assim como tal fato lhe trazia grande alegria, também lhe trazia uma maior responsabilidade, ela teria grandes desafios para superar.
Rezemos:
Ó minha bendita Mãe, não só uma espada, porém tantas quantas foram os meus pecados, tenho eu acrescentado ao vosso coração. Não a vós, que sois inocente, minha Senhora, mas a mim, réu de tantos delitos, são devidas as penas. Já que contudo quisestes sofrer tanto por meu amor, impetrai-me pelos vossos merecimentos uma grande dor de minhas culpas, e a paciência necessária para sofrer os trabalhos desta vida. Por maiores que sejam, sempre serão leves em comparação dos castigos que tenho merecido, e de meus pecados, que me têm tornado tantas vezes digno do inferno. Amém.
2 - A fuga da Sagrada Família para o Egito (Mateus 2, 13-21)
Mudar é difícil, não? Quando a gente muda nosso comportamento, nosso agir, os primeiros momentos são sempre mais difíceis. E isso porque é nossa proposta, nossa intenção. E quando somos forçados a viver de forma diferente, por causa daqueles que estão ao nosso redor, mas sem perdermos a essência do que somos e do que acreditamos?
A nossa vida é passageira e devemos aprender a valorizar mais os tesouros do céu do que os terrenos. Somos peregrinos nesta vida e este mundo vai buscar nos enganar com as comodidades. Sigamos sempre firmes, despertos e conscientes...
Rezemos:
Ó Maria, nem depois de vosso Filho ter sido imolado pelos homens, que o perseguiram até à morte, cessaram esses ingratos de persegui-lo com seus pecados, e de afligir-vos, ó Mãe dolorosa? E eu mesmo, ó meu Deus, não tenho sido um desses ingratos? Ah! minha Mãe dulcíssima, impetrai-me lágrimas para chorar tanta ingratidão. E pelas muitas penas que sofrestes na viagem para o Egito, assisti-me com vosso auxílio na viagem que estou fazendo para a eternidade, a fim de que possa um dia ir amar convosco meu Salvador perseguido, na pátria dos bem-aventurados. Amém.
3 - A perda do Menino Jesus no templo (Lucas 2, 41-51)
Às vezes, no caminho, nos distraímos. Pensamos ter sido a responsabilidade do outro ter sido o motivo de nossa distração. Mas a verdade é que apontar o erro dos outros não muda nada! E muitas pessoas vivem de forma contínua se desculpando por não viver, por causa do outro.
Mas Maria, com José, procura Jesus, "perdido". E a angústia toma seu coração ao ponto de queixar-se a Jesus, ao encontrá-lo. Parece que é este o único momento descrito, pelo menos, na Bíblia.
Ao se deparar com o menino Jesus, no meio dos doutores da lei e os sacerdotes, um grande alívio. Mas a dor extravasa uma interjeição: "Filho, por que fizeste assim conosco? Olha que teu pai e eu te buscamos aflitos!" (Lc 2,48). E, diante da resposta, ela acolhe no seu coração.
Hoje vemos muitas mães angustiadas com seus filhos. Muitas não conhecem os próprios filhos direito. Permitem se "perderem" diante de várias situações, sem saber se queixar, sem saber conhecer o próprio filho. O filho deveria ser uma alegria e se torna fonte de contínua ansiedade, por medo das coisas que ele pode fazer, com quem se envolver, com o mal que os outros trazem sem convites.
Que possamos aprender com a oração. Que o diálogo seja presente nas nossas vidas, mais do que a televisão, o videogame, as músicas. Que busquemos conhecer o próximo, mais ainda quem amamos. Que confiemos e entendamos que a vida dos nossos filhos não são extensão da nossa, mas que possamos oferecer com alegria aquilo que nos faz feliz. Que não os forcemos a fazer nossas vontades, mas entendamos o que se passa em suas emoções, para sabermos bem direcionarmos.
Rezemos:
Ó Virgem bendita, por que assim vos afligis, buscando o vosso Filho, como se não soubésseis onde ele está? Não vos recordais que está em vosso coração? Não sabeis que ele se compraz entre os lírios? Vós mesma o dissestes: “O meu amado é para mim e eu sou para ele, que se apascenta entre as açucenas” (Ct 2,16). Vossos pensamentos e afetos, tão humildes, tão puros, tão santos, são outros lírios que convidam o Divino Esposo a habitar em vós. Ah! Maria, vós suspirais por Jesus, vós que não amais senão a Jesus! Eu é que devo suspirar, eu e tantos pecadores que o não amamos, e o temos perdido por nossas ofensas. Minha Mãe amabilíssima, se por minha culpa vosso Filho ainda não tornou à minha alma, fazei que eu o ache de novo. Bem sei que ele se faz achar por quem o busca. Mas fazei que eu o procure como devo. Vós sois a porta pela qual se chega a Jesus, fazei que também eu chegue a ele por meio de vós. Amém.
4 - Encontro com Jesus caminhando para a morte (Lucas 23, 27-31)
Há diversos casos de mães e pais que, ao ver no que seus filhos se transformaram, entregam-nos à justiça, para que os homens possam corrigir o que eles não conseguiram. Normalmente são pessoas íntegras que amam muito os seus filhos, mas o comportamento e as ações de seus filhos traziam muita dor, não só para eles, quanto para outras pessoas.
Santa Rita de Cássia também, ao ver a possibilidade de seus filhos se envolverem em assassinato, por vingança de seu marido, reza a Deus em ato de coragem, para que os livrassem de mal tamanho que os afastaria dos céus.
Os pais, quase sempre, olham seus filhos como as crianças frágeis de outrora. Sempre buscam de alguma forma, protegê-los. Imagina então, quando eles sabem que seus filhos agem corretamente, ou são pessoas corretas e sem corrupção?
Diante do inevitável, sofremos, mas ainda assim temos carinho, cuidado e muito amor. E a visão do diretor do filme "A Paixão de Cristo" (que não está no livro da beata irmã Anna Katharina Emmerick no livro "A dolorosa Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo" - em que se baseou o filme) parece ser a sensação de Maria, que cuidara de Jesus em suas quedas, quando criança, e via seu filho na dor e corria para acudi-lo da mesma forma.
Rezemos:
Ó minha Mãe dolorosa! Pelo merecimento da dor que sentistes, vendo vosso amado Jesus conduzido à morte, impetrai-me a graça de também levar com paciência as cruzes que Deus me envia. Feliz serei, se souber acompanhar-vos com minha cruz até à morte. Vós e Jesus, que eram inocentes, carregaram uma cruz tão pesada, e eu, pecador, que tenho merecido o inferno, recusarei carregar a minha? Ah! Virgem Imaculada, de vós espero socorro para sofrer com paciência todas as cruzes. Amém.
5 - A morte de Jesus na Cruz (João 19, 25-27)
É algo indescritível a morte de um filho. É algo inesperado, inconcebível, visto que o natural é o filho ver a morte dos pais. Estar diante da morte de alguém amado é um golpe duro na nossa realidade. E Maria, diante do inocente Jesus, não foge... sente, desfalece, mas mantém-se firme diante da Cruz.
Maria, com seu testemunho, nos convida a sermos como seu Filho Amado: a sermos como Ele, a morrermos com Ele, pois o céu é o verdadeiro tesouro dos que amam.
Rezemos:
Ó aflitíssima entre todas as mães, morreu, pois, vosso Filho tão amável e que tanto vos ama. Chorai, que bem razão tendes para chorar. Quem poderia vos consolar jamais? Só pode dar-vos algum alívio pensar que Jesus com sua morte venceu o inferno, abriu aos homens o paraíso, que lhes estava fechado, e fez a conquista de tantas almas. Do trono da cruz Ele reinará sobre tantos corações que, pelo amor vencidos, o servirão com amor. Dignai-vos, entretanto, ó minha Mãe, consentir que me conserve a vossos pés, chorando convosco, já que eu, pelos meus grandes pecados, tenho mais razão de chorar que vós. Ah! Mãe de Misericórdia, em primeiro lugar pela morte de meu Redentor, e depois pelo merecimento de vossas dores, espero o perdão e a salvação eterna. Amém.
6 - Maria recebe o corpo do filho tirado da Cruz (Mateus 27, 55-61)
Maria, com Jesus em seu colo, já sem vida, é uma dor imensa. Ela, assim como os apóstolos, não tinha compreendido ainda tudo que Deus lhes reservava. A vitória sobre a morte, teria que passar por ela, que aprisionava a alma de todos os filhos de Deus desde o pecado original. Mas a carne grita quando o espírito se afasta e talvez o pensamento naquele momento fosse este. Hoje, nós já sabemos que Jesus ressuscitou, mas para eles demorou o entender, o compreender que Jesus em tudo os preparou, mas eles não conseguiam nem ouvi-lo.
Resta, ao ver o corpo inerte, a tremenda dor da incapacidade de fazer algo, convertida em lágrimas e prantos. Olha-se e diz-se que preferia estar no lugar do amado, porque a dor é insuportável...
Rezemos:
Ó Virgem dolorosa, ó alma grande pelas virtudes e também pelas dores, pois que ambas nascem do grande incêndio do amor que tendes a Deus, o único objeto amado por vosso coração. Ah! minha Mãe, tende piedade de mim, que não tenho amado a Deus e tanto o tenho ofendido. Vossas dores me enchem de grande confiança, e me fazem esperar o perdão. Mas isso não me basta; quero amar a meu Senhor. E quem me pode alcançar essa graça melhor que vós, que sois a Mãe do belo amor? Ah! Maria, a todos consolastes; consolai também a mim. Amém.
7 - A sepultura de Jesus (Lucas 23, 55-56)
Guardamos a imagem das pessoas que mais amamos, mas é muito dolorosa a sensação de não poder vê-lo mais. Recordamos hoje, apesar de ser sempre dolorido, aquele que amamos com fotos em momentos felizes, mas antes era dura a dor. Ver o filho morto e se afastando a sua imagem era algo muito dolorido. Sua última imagem era seu filho crucificado, por isso, talvez, Santo Afonso afirme que Maria foi a primeira pessoa a adorar a Cruz de Jesus.
Rezemos:
Ó minha Mãe dolorosa, não vos quero deixar chorando sozinha. Quero acompanhar-vos com minhas lágrimas. Esta graça hoje vos peço: obtende-me uma contínua memória com uma terna devoção à Paixão de Jesus e à vossa, para que os dias que me restam de vida me não sirvam senão para chorar vossas dores, ó minha Mãe, e as de meu Redentor. Essas vossas dores, espero eu, na hora de minha morte, me hão de dar coragem, força e confiança para não desesperar à vista do muito que ofendi ao meu Senhor. E elas me hão de impetrar o perdão, a perseverança e o paraíso, onde espero depois alegrar-me convosco, e cantar as misericórdias infinitas de meu Deus, por toda a eternidade. Assim o espero, assim seja. Amém.
Fonte: Glórias de Maria, Santo Afonso Maria de Ligório
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