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Sérgio Fadul / Portal Claret e Cruz Terra Santa

Santo Antônio Maria Claret


Nascido para evangelizar

Antônio Claret i Clará nasceu no dia 23 de dezembro de 1807, em Sallent (Espanha). É o quinto filho de uma família de onze irmãos. No ano do seu nascimento acontecia a invasão francesa da península Ibérica. Não são tempos fáceis, suas primeiras recordações estão marcadas pela guerra. Nem vê uma família acomodada. Seus pais não dispõem de outras rendas que sua capacidade empreendedora e seu trabalho constante na fábrica de tecidos que ocupava o andar térreo da casa da família. No lar aprendeu a orar e a trabalhar.

Sua educação e formação vêem-se afetadas pelo vai-e-vem de uma época agitada. Depois das primeiras letras, aprendidas na escola de Sallent, foi a Barcelona para uma formação específica, orientada a melhorar os negócios da família. Ele aprende, trabalha e estuda, enfrenta a vida, saboreia o êxito, experimenta a decepção e acaricia projetos ambiciosos; mas, movido pela Sagrada Escritura, descobre um horizonte novo e, ao completar 22 anos, ingressa no Seminário. A partir de então viveu para Deus e, num longo e intenso processo de discernimento, foi descobrindo sua vontade. Curiosamente, nunca esqueceu os estudos de técnica têxtil, deixou os teares, mas logo começou a tecer com o fio do Evangelho.

Viver para evangelizar

O Espírito do Senhor me ungiu e me envia (Is 61, 1)

Ordenado sacerdote em 1835 é destinado à sua cidade natal, onde enfrentou os desafios que Igreja passava na época, viveu junto ao povo atento às necessidades de seus irmãos e logo sentiu que Deus o chamava para algo mais, sentindo coração pulsava por uma evangelização sem fronteiras.


Em 1839, ofereceu-se à Congregação da "Propaganda Fide" para ser Missionário Apostólico: evangelizar como os apóstolos, edificar a Igreja onde fosse necessário. Ingressou no Noviciado da Companhia de Jesus (Jesuítas), mas depois de seis meses abandonou por causa de uma enfermidade. Regressou à sua diocese de origem, porém a vontade de ser Missionário Apostólico logo se verá confirmada com a nomeação oficial da Santa Sé para a propaganda da fé. Tem com isso a certeza de que Deus o queria missionário.


Claret pregou incansavelmente durante oito anos, percorrendo sua terra natal. Porém, seu sonho era de ir a outras terras se realizou em 1848, quando foi enviado às Ilhas Canárias. A atividade destes anos não se restringiu à pregação, mas se enriqueceu com o apostolado escrito, fundou a Livraria Religiosa, criou associações, atendia durante várias horas no confessionário, bem como direções espirituais. Na intensa pregação do Evangelho, Claret chegou a duas conclusões: o povo está faminto da Palavra de Deus, a messe é grande, o campo imenso e os operários são poucos. Este discernimento o fez procurar colaboradores que se sentissem animados pelo mesmo espírito evangelizador. Fundou, em 16 de julho de 1849, a Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria (Missionários Claretianos).


Todos os seus projetos pareceu frustrarem-se quando, pouco depois de ter fundado a Congregação, foi nomeado Arcebispo de Santiago de Cuba. Mesmo assim, aceitou a nomeação por obediência, porém com clara determinação de ser um Arcebispo Missionário. Os seis anos que passou em Cuba foram transformados em uma grande campanha evangelizadora. Tudo o que aprendera aplicou ao seu serviço missionário. Preocupou-se tanto pela formação moral, catequética e cristã como pela educação, a promoção social e a dignificação humana dos fiéis da diocese. Nesse período colaborou com Antônia Paris na fundação da Congregação das Religiosas de Maria Imaculada (Missionárias Claretianas).


Como toda grande personalidade não só teve colaboradores eminentes, mas também reuniu inimizades. Em 1856, em Holguín, sofreu um atentado que quase acabou com sua vida. Chamado pela rainha Isabel II para ser seu confessor, em 1857, deixou Cuba e regressou a Espanha.


Um pássaro em gaiola de ouro

Em Madri passou onze anos como confessor da jovem Rainha e, ao mesmo tempo, evangelizador da corte, da cidade e de toda a Espanha, pois tinha que acompanhar a soberana em suas viagens oficiais. Foram os anos mais duros da sua vida. Sentia que o palácio real era uma jaula de ouro, mas com sabedoria pastoral aproveitou de todas oportunidade para evangelizar. Em colaboração com o Núncio, fez de seu cargo um serviço para a reforma de toda a Igreja, implicando-se na delicada questão da nomeação dos Bispos. Se em Cuba sofreu perseguições, em Madri se acentuou a tormenta: nem todos entendiam seu trabalho pastoral e alguns o consideravam um personagem incômodo e atentavam repetidas vezes contra sua fama, sua honra e sua vida. Ele orava, trabalhava e padecia.


O silêncio lhe foi imposto; se não podia pregar nas Igrejas, pregava nos conventos onde também atendia confissões; se não podia agir, fazia com que outros trabalhassem: organizou associações e promoveu iniciativas nas quais os leigos podiam ser cada vez mais ativos; discretamente, apoiou seus Missionários para que ampliassem seu serviço evangelizador. Viveu pobre, era tudo menos um cortesão.


Exílio e canonização

Em 1868 abandona a Espanha, foi exilado com a rainha; em Paris, apesar de suas enfermidades, ajudou na pastoral da ampla colônia latino-americana da capital francesa. Muito debilitado de saúde, participou do Concílio Vaticano I. Morreu no dia 24 de outubro de 1870 na Abadia cisterciense de Fontfroide, no sul da França.


Antônio Claret foi beatificado no dia 25 de fevereiro de 1934, pelo Papa Pio XI que o considerou "apóstolo incansável dos tempos modernos". No dia 7 de maio de 1950 foi canonizado por Pio XII.



A Missão de Santo Antonio Maria Claret


P. José Maria Viñas, cmf


I . “MISSÃO” EXTRAORDINÁRIA


À medida que o século XIX vai adquirindo perspectiva histórica, a figura de Santo Antônio Maria Claret vai encontrando também seu lugar adequado. A personalidade de Claret, feita de contrastes, criou uma “circunstância” mais contrastada ainda: caluniado e festejado em seu tempo, discutido e louvado no processo de beatificação entre os embargos do “advogado do diabo” e os elogios dos advogados defensores. Estes contrastes de luz e sombra ajudaram pouco a alcançar uma visão objetiva da sua missão e do seu real influxo na Igreja. No entanto, o que na hora da verdade, por ocasião da beatificação e da canonização, disseram os sumos pontífices Pio XI e Pio XII, respectivamente, e que pôde soar a panegírico de circunstâncias, agora o repetem os historiadores desde a frieza ao rigor científicos.

Pio XI disse que, entre os homens providenciais que Deus envia à sua Igreja em circunstâncias extraordinárias, “entre os grandes homens do século XIX suscitou Antônio Maria Claret” (*1). Pio XII proclamou que Claret havia servido a Igreja até o fim da sua vida “como ninguém” (*2). Agora, os historiadores dizem que “o Padre Claret marca o século XIX espanhol com sua vida santa e apostólica” (*3). “Ninguém mais ilustre que Santo Antônio Maria Claret entre os que se dedicaram à rude tarefa de melhorar os costumes e instruir religiosamente o povo” (*4). O movimento de evangelização para recatolicizar a sociedade espanhola “está vinculado ao Padre Claret, apóstolo da Espanha” (*5).


O Padre Claret, inicialmente chamado a ser um missionário popular, teve uma missão extraordinária na Igreja pelos dons extraordinários que o Espírito lhe concedeu e por sua ação multiforme e avassaladora neste mesmo Espírito. Desde seu ser missionário, consagrado e configurado com Cristo evangelizador, teve uma visão profética do mundo e da Igreja, das necessidades urgentes do seu tempo e como missionário procurou dar uma resposta adequada com os meios mais eficazes e suscitou esta mesma visão e esta mesma resposta em outras pessoas: leigos, religiosos e sacerdotes, animados com seu mesmo espírito apostólico.


II. CLARET, “MISSIONÁRIO APOSTÓLICO”


Na primeira biografia de Antônio Maria Claret, escrita um ano depois da sua morte, o Pe. Francisco de Assis Aguilar, bom conhecedor do Santo como amigo e colaborador, lhe deu como primeiro título, na capa e com caracteres destacados, o de missionário apostólico, deixando em segundo lugar e em caracteres menores, o de arcebispo de Santiago de Cuba e de Trajanópolis (*6). Este fato é muito significativo, porque “missionário apostólico” descreve a personalidade mais autêntica e profunda de Antônio Maria Claret.


Missionário apostólico, em seu sentido originário e jurídico, significa um sacerdote enviado pela Sé Apostólica a suscitar a Igreja ali onde não está estabelecida; significa também um sacerdote recomendado pelo Sé Apostólica ao ordinário da Igreja estabelecida para que este lhe dê missão canônica a fim de animá-la ou revangelizá-la (*7). Claret obteve o título de missionário apostólico ad honorem em 1841; mas para ele não foi um título honorífico, mas uma como definição do seu ser, um reconhecimento do seu carisma e um compromisso com a Igreja (*8).


Para Claret, ser missionário apostólico significa ser continuador da missão de Jesus Cristo, o Filho enviado pelo Pai e da dos Apóstolos, enviados por Jesus Cristo ao mundo inteiro para fazer Deus conhecido como Pai e suscitar seu Reino mediante o anúncio do Evangelho. Em primeiro lugar, enviado em missão universal. Por isso encontrou estreitos os limites de uma paróquia (*9), ou os de uma diocese, por muito extensa que fosse, como a de Santiago de Cuba (*10), ou os de uma nação, ao ter que exercer o cargo de confessor de Isabel II (*11). Missão universal no sentido mais geográfico: “a salvação de todos os habitantes do mundo” (*12), e um sentido de classes: hierarquia e fiéis, santos e pecadores, evangelizados e evangelizadores, pobres e ricos, sábios e ignorantes, reis e vassalos.


Em segundo lugar, missão evangelizadora. A Palavra é o primeiro meio, por assim dizer, de salvação. Entre os elementos do ministério apostólico, magistério e profecia, santificação e governo, Claret se sentia chamado a privilegiar, por vocação e de uma maneira integradora desde logo, o primeiro: o magistério; mas como evangelização e profetismo: a Palavra que converte e transforma. Por isso, quando esteve em sua mão, renunciou ao governo e à sacramentalização conservadora. Evangelização missionária e, por isso mesmo, itinerante (*13).


Em terceiro lugar, evangelização testemunhante, ao estilo de vida de Jesus e dos Doze. A itinerância leva consigo a pobreza e ele se sentiu chamado a vivê-la de um modo concreto, seguindo ao pé da letra o Evangelho: viajava a pé e sem provisões e, para ser totalmente livre para evangelizar, não queria ser pesado e não admitia dinheiro pelo ministério (*14). Em Cuba, onde as circunstâncias exigiam locomoção, adotou o cavalo, mas “de três onças no máximo, e o vendia ao terminar as missões para não defraudar com sua manutenção os pobres” (*15). No início viveu esta radicalidade como pioneiro solitário. Depois, o Senhor lhe concedeu poder vivê-la em comunidade, à maneira da comunidade evangelizadora de Jesus e dos discípulos. (*16).


Este modo de entender a missão apostólica não é fruto de estudo, mas de uma experiência do Espírito e de uma leitura carismática do Evangelho, de uma configuração pessoal com Jesus Cristo evangelizador. É fruto de muita oração na busca e só pôde vivê-la também com muita oração e docilidade ao Espírito na resposta.


Como missionário, se sentia possuído pelo Espírito, que o tinha consagrado para evangelizar os pobres e curar os de coração contrito (*17). Esta possessão era tão plena, que se sentia como instrumento, seta, buzina, de outro vinha a força e o impulso, ou o sopro (*18); às vezes, até o barulho do trovão. O espírito era a caridade de Cristo, que o arrebatava à intimidade do Pai ou o impelia por todos os caminhos em busca dos pecadores extraviados (*19).


Sabia pelo Evangelho, por inspiração do Espírito e pela vida vivida, que Cristo evangelizador é sinal de contradição e, por isto, os trabalhos, as calúnias, as perseguições, são como a divisa do apóstolo (*20). Claret experimentou isto como calúnia, falsificação de escritos, caricaturas, cantos, teatro; como ameaça, intimidação, até o atentado sangrento (*21).


Um livro tombo da catedral de Tarragona nos deixou este quadro sugestivo do missionário apostólico em seus primeiros tempos: “Antônio Claret, missionário apostólico, vai missionando pelos povoados onde o chamam e o enviam os prelados. Tem a idade de trinta e oito anos, homem verdadeiramente apostólico, de um zelo e fervor muito grande, infatigável e extraordinário. Anda sempre a pé; não admite dinheiro nem presente algum sob nenhum pretexto. Seu trabalho é imponderável, pois desde as quatro da manhã até à hora de deitar-se, apenas tem tempo para rezar e tomar o necessário alimento, já que passa do confessionário ao púlpito e do púlpito ao confessionário” (*22).


III. VISÃO “MISSIONÁRIA”


Como característica de Claret, colocou-se de relevo sua sensibilidade para captar a alma popular, sua capacidade de entrar em comunhão e compenetrar-se com o povo, fruto de seus dotes de bondade humana e do seu zelo apostólico (*23). Sua evangelização não parte de uma autossuficiência de laboratório, que impõe seus métodos e programações, mas partia de uma visão da realidade. Visão que aflorava dos olhos do coração, inflamado de zelo apostólico.


Quando o Padre Claret se encontrou com o povo, o que viu e sentiu por primeiro foi o ódio entre irmãos, desencadeado pela questão de sucessão ao trono, e que tinha raízes mais profundas. As consequências, além das mortes, incêndios e saques, eram os espantos, a tristeza e os desgostos, enfermidades psíquicas (*24).


Viu que, a pesar de tudo, o povo conservava a fé, mas pouco iluminada, devido ao analfabetismo geral e à falta de catequistas e “catecismos” adequados (*25). Este povo crente era pecador porque as “três concupiscências” tinham se desencadeado pelo mesmo ambiente apaixonado da guerra (*26). Por outra parte, os ministros do perdão, influenciados pela pastoral barroca e ainda pelo jansenismo, aterrorizavam, mas não convertiam (*27). Havia também causas sociais que tinham consequências negativas para a piedade popular, entre elas, a industrialização, com todos os problemas de concentração urbana, de injustiças, de reivindicações. Ele mesmo, que havia experimentado o entusiasmo da fabricação como técnica e fator de progresso sendo trabalhador em uma grande fábrica de Barcelona, havia constatado também como separa o povo do cristianismo quanto serve à cobiça e, por isso mesmo, se converte em opressão (*28).


Outra conquista da técnica, o vapor aplicado aos meios de locomoção, ia influir também à sua maneira. O trem de ferro fez possível o transporte de massas antes ancoradas ao solo nativo e aos costumes e às tradições como normas de vida, sem princípios mais profundos (*29). Este povo analfabeto, de catecismo aprendido de memória, se sentia desorientado diante de formulações materialmente diversas das mesmas verdades (*30). Os que sabiam ler já não tinham tempo para longas sessões de leitura (*31). Tinha que nascer outro estilo literário e outra apresentação dos escritos. O vapor podia ser também um meio de evangelização e assim o usaria Claret nas viagens com a rainha (*32).


Mas o povo não era evangelizado nesta situação crítica, porque haviam sido suprimidas as ordens religiosas, os pregadores populares, ou, se o era, não o era evangelicamente, porque o Evangelho havia sido suplantado por outros temas ou por uma oratória de brilhantismo literário mais que de edificação, ou desalentadora por seu terrorismo barroco, ou demasiado sentimental pelo romantismo.


O pecado social Em Cuba e também no sul da Espanha (*33), viu as consequências sociais dos pecados pessoais. “Nestas terras (Cuba) há uns princípios de destruição, de corrupção e de provocação da justiça divina” (*34); Um destes princípios é: “os ilustrados e docentes do país, em quem não só não há sombra de religião, mas um desprezo e ódio contra ela, e não perdoam meio algum para imprimir e embeber dos mesmos sentimentos o povo, que é sumamente dócil e humilde e facilmente se deixa seduzir pela suma ignorância que há hoje em dia. (*35).


A escravidão, ou a dominação do homem pelo homem, era como o máximo de todas as opressões. “Os proprietários de negros são inimigos das missões, da religião e da moralidade” (*36).


Finalmente, “pela infame conduta observada pelos europeus” (*37). “Não apreciam outro Deus senão o interesse” (*38). “Como consequência, a família está destruída pelos divórcios e amancebamentos e a justiça social, manchada pelo afã de enriquecimento” (*39).


As ideologias


Nos últimos tempos de Cuba e nos anos de Madri, Claret caiu na conta de que havia aparecido um novo sinal de destruição: as ideologias ateias. O idealismo alemão, com o panteísmo de Hegel; o positivismo inglês, o enciclopedismo, o racionalismo de Renan, o materialismo marxista: estas eram realmente as trevas que vagavam pelos ares e que iam influir no mundo mais que o liberalismo (*40). Era a luta definitiva do homem contra Deus, era a existência mesma da fé que estava em jogo. Santo Antônio Maria Claret conheceu esta realidade não só pela leitura e pelo estudo, mas pela oração e comunhão sobrenatural (*41).


Por outra parte, o protestantismo, pela eficácia proselitista de algumas de suas seitas, continuava perturbando o povo simples, não preparado para defender-se e que resistia mais pelo instinto interior que por uma doutrina iluminada. (*42). IV. A EVANGELIZAÇÃO COMO RESPOSTA


A visão dos males do mundo, nascida do seu coração bom e sensível e do seu zelo apostólico, provocava nele uma reação ativa tanto a nível do seu caráter como a nível da sua vocação de apóstolo e estranhava que não acontecesse nos outros sacerdotes, religiosos ou leigos, o mesmo efeito (*43).


Para enfrentar os males do mundo, o Padre Claret, missionário, não encontrava remédio mais eficaz que a evangelização: “A palavra divina tirou do nada todas as coisas. A palavra divina de Jesus Cristo restaurou todas as coisas. Jesus Cristo disse aos apóstolos: Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho do Reino a toda criatura” (*44). E fazia sua a citação de Donoso Cortés: “A sociedade não perece por outra coisa senão porque a Igreja retirou sua palavra, que é palavra de vida, palavra de Deus”.


As multidões estão desfalecidas e famintas porque não recebem o pão cotidiano da palavra de Deus. Todo propósito de salvação será estéril se não se restaurar em toda sua plenitude a grande palavra católica (*45).


A evangelização do povo


Para evangelizar o povo, o Padre Claret, cheio de sentido humano e de amor evangélico, fez chegar ao mesmo povo a palavra salvadora pelas formas tradicionais; antes de tudo, pelas “missões populares” (*46). Nascidas na época da Reforma, tiveram seu desenvolvimento e sistematização nos séculos XVII e XVIII. Sua influência foi extraordinária em toda Europa (*47). Mas Claret tentou dar a estas missões uma nova orientação. “A temática principal das missões populares era herança da piedade barroca: novíssimos de modo terrorista, brevidade da vida, vaidade das coisas temporais, o pecado e suas consequências, explicação casuísta dos mandamentos, preparação da confissão e comunhão” (*48). Ele, sem deixar de ser do seu tempo, tinha uma nova sensibilidade. Jaime Balmes notou a diferença e escreve: “No púlpito jamais fala de teatro”. Nem de heresias, nem de filósofos, nem de ímpios. Supõe sempre a fé… Pouco terror, suavidade em tudo. Nunca dá exemplos que deem pé ao ridículo. Os exemplos, em geral, são da Escritura. Fatos históricos profanos. Nunca oposições e coisas semelhantes. Fala do inferno, mas se limita ao que diz a Escritura. O mesmo do purgatório. Não quer exasperar nem deixar o povo louco. Sempre há uma parte catequética” (*44). Também notou algo de novo o jornalista de Havana: “Fala do inferno e se enternece pelo pecador ao ver-se privado para sempre da presença de Deus, sem os horrores das pessoas gritando nas caldeiras de chumbo derretido e sem os envenenados arpões que desfazem as carnes em sanguinolenta carnificina. Suas palavras são de conciliação e de consolo; jamais abandona o auditório na tempestade sem que o arco íris de paz haja aparecido no horizonte. Nunca desce da cátedra sagrada sem ter deixado as pessoas na doce expectativa da esperança, sem ter-lhes oferecido os consolos da misericórdia divina (*50).


Para evangelizar o povo Claret usou a cultura do povo: simplicidade, clareza, comparações (*51). Outro jornalista de Madri qualificava de bíblica sua eloquência: “De seus lábios não se desprende uma só frase que tenda a esta eloquência enfática, tão comum em nossos dias; nem revele pretensões de orador avantajado, nem traduza propensão a ostentar dotes nem privilégios destes que são tão apreciados entre os homens” (*52).


A credibilidade da sua pregação estava abalizada pela unção do Espírito, pelo zelo de sua caridade e pela coerência da sua vida com a mensagem que proclamava. Ainda, pelo desinteresse e dedicação total, sem descanso, nem compensações. Nos sete anos de evangelização na Catalunha pregou missões em umas 150 localidades, quer nas capitais da Província, quer nos povoados mais distantes da montanha. Sempre a pé, sempre vigiado pelo Governo, porque lhes dava medo a multidão que se reunia e pelo prestígio universal temiam um levante geral (*53). Nos quinze meses que passou nas ilhas Canárias pregou todos os dias, quer nas missões, quer nos exercícios espirituais. Em Cuba percorreu a diocese quatro vezes em visita pastoral, estas visitas eram verdadeiras missões. Em Madri, além das viagens reais, nas quais pregava incessantemente, aproveitava a estadia nos reais sítios para pregar missões nos povoados vizinhos. Desterrado, pregou em Paris. E em Roma, Padre do Concílio Vaticano I, não se dispensou de ensinar catecismo às crianças e aos soldados e de dar conferências a seminaristas e religiosos.


“Eu me atrevo a afirmar, disse o cardeal Isidro Gomá, que a pregação do Padre Claret contribuiu mais na restauração da fé e da piedade do povo e das virtudes sacerdotais dos ministros do Senhor que todos os meios ordinários de iluminação e santificação das almas. Porque não há nada que mova mais profundamente as pessoas que estas rajadas de divindade que sobre elas fazem passar os homens verdadeiramente possuídos pelo Espírito de Deus” (*54).


Mas além dos meios tradicionais, como as missões populares, o Padre Claret usou formas novas: exercícios espirituais, publicações, bibliotecas populares e paroquiais. Especialmente pelo uso da imprensa, Pio XI deu a Claret o título de apóstolo moderno: “Dizemos moderno em razão da objetividade dos meios e métodos adotados, que a antiguidade não teve nem conheceu e que em nossos dias representam uma parte tão importante e eficaz da nossa vida” (*55).


“Nem todos podem ouvir a divina palavra, escreve o Padre Claret, mas todos podem ler ou ouvir ler um bom livro” (*56). Isto o moveu a escrever folhas soltas, opúsculos, livros, roubando tempo ao sono da note. Para que as edições fossem verdadeiramente baratas e a preços populares, fundou, com o cônego Caixal, a Livraria Religiosa, que só em seus primeiros dezenove anos de existência editou 9.569.800 exemplares (*57).


Em Cuba repartiu gratuitamente 200.000 livros (*58). Em Madri fundou as bibliotecas paroquiais. Antes de morrer, até em Roma e em Fontfroide continuou o apostolado da palavra escrita. Procurava que em cada casa houvesse o Catecismo explicado (*59), para iluminar a fé da família; um Caminho Reto (*60), para facilitar a piedade e os Avisos (*61) a todos, para fomentar a santificação de cada um segundo seu próprio estado.


Para enfrentar o nascente humanismo ateu a nível popular, publicou Tardes de Verão (*62) e o Trem de Ferro (*63), difundindo, por meio de opúsculos, as devoções que mais se opunham a estas ideologias. O Triságio, contra o panteísmo; a Missa, contra a negação da divindade de Jesus Cristo; o Rosário, como a incorporação das vicissitudes da vida nos mistérios de Cristo e Maria, contra a concepção materialista da existência (*64).


Evangelização e promoção humana


Santo Antônio Maria Claret evangelizou sempre em contato vivo com o povo: “Como sempre ia a pé, me juntava com tropeiros e gente ordinária” (*65). Nem em Cuba nem em Madri se deixou isolar pela dignidade episcopal. Por isso, sua evangelização respondia às necessidades reais e com meios adequados. Como dissemos, em Cuba percebeu mais claramente as consequências sociais dos pecados pessoais e, por isso mesmo, uma conversão à vida cristã levava consigo consequências sociais positivas. Disse o Papa Paulo VI que entre evangelização e promoção humana, desenvolvimento, libertação, existem laços muito fortes, antropológicos, teológicos e evangélicos (*66). Claret viu a união entre evangelização e promoção principalmente desde a caridade apostólica. Em seu tempo, a diferença entre ricos e pobres se considerava como um fato de providência contra o qual não se podia lutar; havia que contentar-se com suavizar os contrastes (*67). Aos ricos havia que pregar que fossem justos e caritativos com os pobres e aos pobres que fossem austeros e trabalhadores. Os evangelizadores do século XIX não tinham o apoio de uma doutrina social, nem de uma crítica científica, nem de uma sensibilidade de justiça social que possuímos hoje.


Claret não se contentou com denunciar, desde o púlpito e escritos, os pecados dos ricos e dos pobres, mas colocou em prática uns meios que eram modernos em seu tempo. Escreveu um par de livros sobre a agricultura (*68) para a promoção dos trabalhadores do campo no aspecto técnico e humano-cristão. Organizou uma fazenda modelo e criou as caixas de poupança para facilitar os meios de trabalho, “porque vi que os pobres, se são bem orientados e lhes são proporcionados meios decentes de ganhar a vida, são homens virtuosos; de outro modo, se tornariam maus” (*69). Em seu Regulamento faz ver a ilação entre as caixas e o que havia ensinado, de palavra e por escrito, para conservar os bons costumes, elevar a moralidade pública e fomentar a agricultura e as artes mecânicas (*70). Os lucros líquidos deviam ser investidos nos dotes das donzelas pobres e na ajuda às viúvas. Também procurou que funcionasse no cárcere uma escola de artes e ofícios, “porque a experiência ensinava que muitos voltavam ao crime porque não tinham ofício, nem sabiam como procurar o sustento honradamente” (*71).


Também em Cuba encetou uma grande batalha a favor da família, desfeita pela interpretação abusiva das Leis de Índias, pelo divórcio e pelo amancebamento. (*72).


Evangelização e escravidão


A evangelização dos escravos era mais difícil, pela oposição dos donos das fazendas e dos negreiros (*73). Claret se empenhou em uma ação a nível de pessoas. Uma ação social eficaz pela emancipação transcendia, por sua complexidade, as possibilidades de um arcebispo. A Inglaterra estava a favor da emancipação, mas nem com seu poder de grande potência conseguiu em Cuba pelas interferências dos Estados Unidos. Os Estados do Sul queriam a anexação de Cuba para assegurar o lugar que lhes correspondia na Confederação, enquanto com isso podiam “reforçar o poder da escravidão como elemento de controle político (*74). Por sua parte, os negreiros de Cuba eram favoráveis à anexação como meio de salvar seus interesses. Sobretudo quando o Marquês de la Pezuela emanou um decreto muito enérgico, no dia 26 de dezembro de 1853, contra a trata de escravos. Para preparar a aceitação deste decreto pela opinião pública, o governador inspirou uma série de artigos no Diário da Marinha nos quais se louvava o arcebispo Claret por sua oposição à trata (*75). Por esta oposição, os escravistas em favor da anexação tentaram envenenar o Santo” (*76)


Evangelização e política


O Padre Claret, missionário, afirma uma e mil vezes que não quer se meter em política. No entanto, sua evangelização tinha conseqüências políticas, e os partidos teriam querido instrumentalizá-la a seu favor em um sentido ou em outro. Por causa da pregação na Catalunha, declarou o anarquista Jaime Brossa: “Antes da aparição do Padre Claret, Catalunha estava madura para o indiferentismo... Se não tivesse existido Claret, Catalunha teria compreendido a mensagem da revolução” (*77). Durante a permanência em Cuba, os escravistas em favor da anexação “diziam que lhes fazia mais dano com sua pregação o arcebispo de Santiago que todo o exército” (*78). Carr afirma que a intensificação do catolicismo espanhol, era devida em grande parte à pregação do Padre Claret, “por útil que fosse como elemento de coesão social, confundiu e dividiu o liberalismo” (*79). Pio IX sintetizou a conduta de Claret desta maneira: “Vi D. Claret e reconheci nele um digno eclesiástico, um homem todo de Deus e embora alheio à política, contudo, experimentou bastante as intemperanças da mesma política e a malícia dos homens que são católicos só de nome” (*80). “Como fonte e cabeça do catolicismo político, o Padre Claret se converteu em alvo predileto dos ataques radicais e liberais” (*81).


V. OS EVANGELIZADORES


Claret descobriu que o povo não era evangelizado e a Palavra não produzia as grandes conversões na sociedade como acontecera em outros tempos porque faltavam evangelizadores de vida evangélica autêntica e que estivessem animados de zelo verdadeiramente apostólico (*82). Na oração pedia ao Senhor que suscitasse estes evangelizadores e ele procurava colaborar com a ação do Espírito por meio dos exercícios espirituais aos leigos e aos sacerdotes (*83).


Pouco a pouco, o Espírito Santo foi levando Claret a ser mediação de graça missionária para os demais, princípio de identificação vocacional, pessoa englobante, isto é, lhe deu o carisma de fundador não só de associações de oração e ação apostólica, mas também de verdadeiras famílias de Deus na Igreja, ou, por melhor, de uma dilatada família nascida da sua experiência espiritual, da sua doutrina, da sua leitura carismática do Evangelho, da sua organização.


Santo Antônio Maria Claret fomentava o apostolado associado não só pela eficácia e pelas vantagens da associação, mas pelo testemunho e força da caridade fraterna vivida em comunhão de vida em diferentes graus (*84).


A organização de base foi a Arquiconfraria do Santíssimo e Imaculado Coração de Maria, para a conversão dos pecadores (*85). Associação popular e universal; dela foram saindo grupos mais especializados ou pela intensidade da vida evangélica comprometida ou pela qualidade do apostolado. Desta Arquiconfraria nasceu a Irmandade (1847), que integrava sacerdotes e leigos. Os sacerdotes se dedicavam principalmente à pregação de missões e exercícios espirituais. Os leigos, a escrever e difundir livros, à pacificação das famílias, união dos matrimônios, reabilitação das mulheres perdidas, caridade com os enfermos, encarcerados, pobres, anciãos, órfãos e viúvas. Uma seção importante desta Irmandade eram as diaconisas, mulheres que, além de cumprirem com as obrigações do seu estado, se dedicavam especialmente ao catecismo, ao ensino e à caridade, junto com o testemunho de uma vida cristã irrepreensível. Esta participação ativa das mulheres no apostolado encontrou a contrariedade do metropolitano de Tarragona (*86).


Claret promoveu também a virgindade consagrada no mundo, já que os tempos não favoreciam a vida conventual; mas também como verdadeira vocação cristã de vida evangélica laical. Deste movimento nasceu o instituto secular Filiação Cordimariana (*87).


No dia 16 de julho de 1849 fundou a Congregação dos Missionários chamados Filhos do Imaculado Coração de Maria, que deveriam ser seus continuadores na evangelização universal, não só para renovar a fé e a vida cristã na Igreja estabelecida, mas também para suscitar, pela evangelização, a Igreja lá onde Cristo não teria sido anunciado ainda. Missionários enviados, como os Apóstolos, a anunciar o Evangelho a toda criatura, mas também vivendo em vida verdadeiramente apostólica (*88). Para suprir os pregadores regulares se formaram algumas congregações sacerdotais, mas nenhuma levou tão adiante o empenho de vida apostólica, sancionada depois com os votos públicos simples.


Esta evangelização “itinerante” devia ser complementada pelo cultivo contínuo da renovação iniciada. A este fim, Claret pensou em um instituto de clérigos seculares de vida comum sem votos, ao serviço estável da diocese, “e são os que possuem os ofícios, benefícios, curatos, canonicatos, dignidades, professorados” (*89)


A primitiva Confraria havia possibilitado a Irmandade e da Irmandade havia nascido esta família ou exército do Coração de Maria, integrado à maneira de três ordens, com uma complementaridade de dons e funções: sacerdócio profético e vida religiosa, sacerdócio sacramentalizador de regime e apostolado secular com ou sem consagração no mundo. Entre estas ordens havia união de graça e de caridade, mas não estavam organizadas em dependência hierárquica umas de outras (*90). A revolução de 68 interrompeu, talvez, uma ulterior organização que podia ter levado a uma coordenação ou programação comum.


Ao redor deste núcleo fundamental suscitou outras associações para a evangelização, como a Irmandade da Doutrina Cristã (*91) e outras com caráter mais moderno, como a Irmandade Espiritual de Bons Livros (*92). E, sobretudo, a Academia de São Miguel (*93). Queria por fim responsabilizar os leigos no apostolado especializado. Os sócios se dividiam em três grupos: os literatos, os artistas e os propagandistas. “Unidos entre si, os acadêmicos procurarão viver com a simplicidade dos primeiros cristãos, sem que haja entre eles mais que um coração e uma só alma” (*94).


A experiência episcopal de Cuba o fez viver a Igreja como corpo místico do Senhor e como mistério e sacramento de salvação. Por isso, procurou com a palavra missionária influir em seus irmãos de episcopado para um plano de ação pastoral de conjunto (*95). Promoveu a formação de bons sacerdotes com seus escritos (*96), e com o seminário inter-diocesano do Escorial (*97). Viu que a Igreja não deveria se apoiar nas autoridades civis, mas em sua própria força interior (*98). Por isto promoveu a educação da juventude com seus escritos (*99) e ajudando a fundar congregações dedicadas ao ensino (*100), até estimulou seus missionários a ampliarem a catequese com a educação cristã integral, dizendo-lhes que era o maior bem que podiam fazer na Igreja (*101). VI. “CUMPRI MINHA MISSÃO"


Um ano antes de morrer escrevia confidencialmente desde Roma: “Pode-se dizer que já se cumpriram os desígnios que o Senhor tinha sobre mim” (*102). “Parece-me que já cumpri minha missão: em Paris e em Roma preguei a lei de Deus. Em Paris, como na capital do mundo e em Roma, capital do catolicismo. Tanto oralmente, como por escrito. Observei a santa pobreza” (*103). Os destinatários destas cartas estavam a par do que o Santo chamava “desígnios de Deus sobre mim”, “minha missão”. Nos anos de 1855 e 1859 aconteceu uma nova abertura em sua missão na Igreja por meio do símbolo da águia e do anjo do Apocalipse (*104). As palavras que cita na Autobiografia estão tomadas do comentário de Cornélio Alápide, segundo o qual a águia significa um santo e celestial profeta enviado por Deus, que voa ou corre com grande velocidade pela terra e anuncia os grandes castigos que se aproximam (*105). O mesmo símbolo, ainda mais explícito, é o do anjo, no qual Claret se vê seguido por seus missionários como o eco da sua voz e ungidos pelo Espírito com a mesma unção profética para evangelizar os pobres e os de coração contrito (*106). A pregação em Paris e Roma era como uma antecipação simbólica e profética do que ele como fundador realizaria na Igreja.


A voz de Claret, que começou a proclamar timidamente o Evangelho no púlpito de uma pequena igreja de montanha, foi crescendo como rugido de leão e se deixou ouvir na Catalunha inteira, Canárias, Cuba, Espanha toda, Paris e Roma. Seus filhos, os missionários continuam e continuarão amplificando-a, como um trovão, pela Europa, América, África, Oceania e Ásia. A palavra de Claret, que começou por uma folha solta, cresceu como um vendaval de milhões de folhas que alcançam os campos e as cidades.


Seu primeiro método de missionar (*107) em uma pastoral de bispos tomou a dimensão da Igreja universal (*108). O grupinho de crianças da catequese de Sallent se converteu em um auditório de milhares de crianças nos cinco continentes.


Os cinco Sacerdotes que em 1849 se comprometeram viver evangelicamente para poderem anunciar o Evangelho apostolicamente, se converteu em milhares de missionários que vão prolongando, no tempo e no espaço, o seguimento de Jesus Cristo, representando sua vida de consagração ao Pai na evangelização.


O santo bispo D. Paulo de Jesus Corcuera antecipou a ordenação sacerdotal de Claret porque via nele algo de extraordinário (*109). Com efeito, era um seminarista diocesano, mas de coração para todo o mundo (110). A “discrição” do bispo foi certeira, porque Claret foi sempre extraordinário: um menino que já é apóstolo (*111); um operário precocemente técnico e de extraordinárias relações humanas com os operários (*112); pároco a quem fica pequena a paróquia (*113); missionário, mas ao modo apostólico no mais rigoroso sentido da palavra e das exigências evangélicas (*114); bispo missionário, ou melhor, missionário bispo, que não quer ser príncipe da Igreja, mas servidor de todos, percorrendo caminhos impossíveis, como as montanhas de Baracoa, para chegar a todos (*115). Confessor da rainha nada palaciano e evangelizador nacional (*116); Padre conciliar com cicatrizes de mártir (*117) e catequista no além Tibre (*118). Morre não como morrem os bispos, mas como os pobres e os missionários: na hospedagem de um mosteiro e perseguido até o último momento; sem funeral de dignitário, mas de pobre desterrado (*119). O Senhor o fez extraordinário para que pudesse cumprir a missão extraordinário que lhe havia confiado: conservar e defender a beleza da Igreja para que esta pudesse anunciar o Evangelho a todos de uma maneira convincente e crível.

José MARÍA VIÑAS, CMF

NOTAS 1) Pio XI, Cartas apostólicas Magnus vocabitur, 25 de fevereiro de 1934: AAS 26 (1934) 174. 2) Pio XII, Litterae decretales: Beato Antonio Mariae Claret, confessori Pontifici Sanctorum honores decernuntur: Quos Spiritus Sanctus, 7 de maio de 1950: AAS 44 (1952) 351. 3) Jiménez Duque, Baldomero, Espiritualidad y apostolado, em: BAC, Historia de la Iglesia en España. V: La Iglesiaen la España contemporánea (1808-1975) (Madrid 1979) p. 468. 4) Montalbán, Francisco Javier, Historia de la Iglesia católica, V: BAC (Madrid 1953) p. 607. 5) Carr, Raymond, España. 1808-1939 (Barcelona 1970) p. 280. 6) Aguilar, Francisco de Asís,Vida del Excmo. e Ilmo. Sr. D. Antonio María Claret, misionero apostólico (Madrid 1871). 7) Urbaniana, Sylloge (Roma 1939) 13, III. 8) HD, I, pp. 271-397. 9) Annales CMF 35 (1939) 165. 10) “Mas assim eu me amarro a um só bispado, quando meu espírito é para todo o mundo” (carta ao núncio Brunelli, 12 de agosto de 1849: EC, III, p. 41). 11) Aut. n. 762. 12) Constituições CMF, 1857, n. 2. 13) Aut. nn. 193, 460. 14) Doc. Autob. VII, 2. 15) Cf. Informe do marquês de La Pezuela ao diretor geral de além-mar: Habana, 7 fevereiro de 1854: AHN Ultramar leg. 1662, n. 81. Fotocopia: CESC-Vic: FC-H 3. 16) Aut. nn. 488-491. 17) Aut. nn. 685 y 118. 18) Cf. Declaração do Pe. Carmelo Sala: PIT ses. 3, art. 58. 19) Aut. nn. 439-488. 20) Aut. n. 427. 21) Aut. nn. 573-584.798. 22) HD, I, p. 227. 23) Montsonis, S. de, Un segle de vida catalana (Barcelona 1961) II, p. 786. 24) Aut. nn. 288, 291. 25) Aut. nn. 170, 171, 179. 26) Aut. nn. 285, 286. 27) Carta ao bispo de Vic, 27 setembro 1848 (EC, I, p. 279). 28) Aut. nn. 56-77. 29) Historia general de las civilizaciones, VI:Siglo XIX (Barcelona 1958) pp. 28-48, 172-185. 30) Claret, Unidad de catecismo (Barcelona 1867) p. 4. 31) Aut. n. 312. 32) HD, II, cap. 12. 33) Aut. nn. 717-735; cf. HD, I, pp. 614-618. 34) Carta ao Pe. Estêvão Sala, Jiguaní 4 de novembro de 1852 (EC, I, pp. 704-705). 35) Carta do Pe. Pedro García, S. J., cit. en HD, I, p. 616. 36) Carta ao Pe. Estêvão Sala, cit. en HD, I, p. 705. 37) Carta do Pe. Pedro García, S. J., cit. en HD, I, p. 616. 38) Carta ao Pe. Estêvão Sala, cit. en HD, I, p., 705. 39) HD, I, pp. 761-803. 40) Rops, Daniel, L’Église des Révolutions (Paris 1960) p. 573. 41) Aut. n. 685; Exercícios 1865; cf. Fernández, Cristóbal, La Congregaciónde los Misioneros Hijos del Inmaculado Corazón de María 1849-1912) (Madrid 1967) p. 374. 42) Claret, Antídoto contra el contagio protestante (Barcelona 1862). 43) Aut. 13. 44) Aut. n. 450. 45) Aut. n. 450. 46) Claret, Antídoto contra el contagio protestante (Barcelona 1862). 47) Floristán, Casiano-Useros, Manuel, Teología de la acción pastoral, BAC (Madrid 1968) pp. 34-37. 48) Jiménez Duque, Baldomero, Espiritualidad y apostolado, en BAC, Historia de la Iglesia en España (Madrid 1979) V, p. 413. 49) Casanovas, Ignasi, Balmes: la seva vida, el seu temps, les seves obres (Barcelona 1932) II, p. 64. 50) Cit. en HD, I, p. 341. 51) Aut. nn. 222, 297-299. 52) Cf. HD, I, p. 343. 53) Fort i Cogul, Eufemiá, Itinerari de Sant Antoni M.ª Claret per Catalunya (Barcelona 1970); Aut. n. 458. 54) Gomá, Isidre, Panegíric del Beat Pare Anton Maria Claret (Barcelona 1934) p. 16. 55) Pío XI: L’Osservatore Romano, 7 de janeiro de 1926. 56) Aut. n. 310. 57) Cf. Lozano, Juan Manuel, Un gran apóstol de la prensa (Madrid 1963) p. 44. 58) Tesoro de Barriosuso, II, n. 728, p. 1583. 59) Aut. nn. 323, 476; cf. Bibliografía. 60) Ib. 61) Aut. n. 325. 62) Aut. n. 799, cf. Bibliografía. 63) Cf. Bibliografía; El ferrocarril, pp. 171, 179. 64) Aut. n. 695. 65) Aut. n. 461. 66) Pablo VI: Evangelii nuntiandi, n. 31. 67) Constituições CMF, 1857, n. 93. 68) Aut. n. 568. 69) Aut. n. 569. 70) Ciller, José María,El ahorro en las cajas de ahorros benéficas y en la doctrina social de la Iglesia (Madrid 1971) pp. 25-35; Lavastida, José Ignacio,El Padre Claret y las Cajas de Ahorros parroquiales en Cuba: SC 18 (1998) 23-44. 71) Aut. n. 571. 72) HD, I, pp. 790-798. 73) Ib., pp. 763-765. 74) Hugh, Thomas, Cuba, la lucha por la libertad (Barcelona 1973) I, p. 295. 75) Ib., p. 293. 76) Aut. n. 524. 77) Brunet, Manuel, Actualidad del Padre Claret (Vic 1953) p. 39. 78) Aut. n. 524. 79) Carr, Raymond, España. 1808-1939(Barcelona 1970) p. 281. 80) Cf. Gorricho, Julio, Epistolario de Pío IX con Isabel II de España: Archivum Historiae Pontificiae 4 (1966) 313. 81) Carr, Raymond, o. c., p. 280. 82) Carta ao núncio, 12 de agosto de 1849: “Vendo a grande falta que há de pregadores evangélicos e apostólicos em nosso território espanhol...” (EC, III, p. 41). 83) Aut. n. 307: “Não poucos saíram [dos exercícios] muito zelosos e fervorosos pregadores”. 84) Viñas, José María,San Antonio María Claret y la piedad de Cataluña: Analecta Sacra Tarraconensia 28 (1955) 493. 85) Bertrans, Pedro, Dos cédulas históricas: Boletín CMF Cataluña, núm. extr. (1949) pp. 56-58; Canal, José María-Alonso, Joaquín María, La Archicofradíade Nuestra Señora de las Victorias (Madrid 1959) pp. 160-167. 86) Fernández, Cristóbal,La Congregación de los Misioneros... (Madrid 1967) p. 91. 87) Torres, Ismael, Filiación Cordimariana (Madrid 1960). 88) Aut. nn. 488-491; Constituições CMF, 1857, 1865 y 1870. 89) Claret, Reglas del Instituto de los clérigos seglares que viven en comunidad (Barcelona 1864) prólogo. 90) Ib. 91) Carta ao bispo de Vic, 20 de agosto de 1849 (EC, I, p. 307); Aut. n. 560. 92) HD, I, p. 495. Foi fundada em 1846. 93) Aut. nn. 581, 332, 701. 94) Bermejo, Jesús, El apóstol claretiano seglar (Barcelona 1979) p. 155; Claret, Plan de la Academia de San Miguel (Barcelona 1859). 95) Claret, Apuntes de un Plan para conservar la hermosura de la Iglesia y preservarla de errores y vicios (Madrid 18S7). 96) El colegial o seminarista instruido (Barcelona 1860-1861) 2 vols.; Carta pastoral al clero. Santiago de Cuba 1852; La vocación de los niños (Barcelona 1864); Aut. n. 326. 97) El seminario y colegio de San Lorenzo de El Escorial (Madrid 1863); Aut. nn. 869-872. 98) Carr, Raymond, España. 1808-1939 (Barcelona 1970) p. 444: “O espírito evangélico, revivido pelo Pe. Claret no último quarto de século, dedicou-se à organização eficaz da piedade existente, tentando conservar, mediante a pressão e o poder sociais e, sobretudo, mediante uma educação católica, a fé, cuja proteção não podia ser colocada nas mãos do Estado. A religião formal não era suficiente quando podia perder a batalha”. 99) La colegiala instruida (Barcelona 1863); La cesta de Moisés (Barcelona 1846). 100) Religiosas de Maria Imaculada Missionárias Claretianas, Adoratrizes do Santíssimo Sacramento, Carmelitas da Caridade. 101) Carta ao Pe. José Xifré, Roma 16 de julho de 1869 (EC, II, p. 1406). 102) Carta à M. Maria Antonia París, Roma 21 de julho de 1869 (EC, II, p. 1411). 103) Carta a D. Paladio Currius, Roma 2 de outubro de 1869 (EC, II, p. 1423). 104) Aut. nn. 685, 686; Luzes e Graças 1859, 23 de setembro. 105) Ap 8, 13; Commentaria in Apocalypsin (Amberes 1672) pp. 167-168: “Quarto... aptissime Ribera per aquilam hanc intelligit aliquem sanctum et coelestem prophetam, quem Deus in fine mundi excitabit, ut hominibus toto orbe existentibus praenuntiet sequentes tres plagas, atque Antichristi adven­tum imminere. Unde volabit per medium caelum, id est, celerrime per mediam terram discurret, ut praedicet graviora instare impiis supplicia, ni vitam mutent... vae... terrenis et mundanis, qui corde affectu habitant in terra, imo eidem prorsus affixi sunt” (el subrayado es mío para ver la cita contraída en Luces y Gracias y en la Autobiografía). 106) Aut. n. 687. 107) Método de misionar en las aldeas o campos y arrabales de las ciudades (Santiago de Cuba 1857). 108) Apuntes de un Plan... (Madrid 1857). 109) AguilaR, Francisco de Asís, Vida de Claret..., p. 414. 110) Aut. n. 120. 111) Aguilar, Francisco de Asís, Aguilar, o. c., p. 15: “Foi apóstolo antes de ser homem”. 112) Aut. nn. 31, 33, 34, 62, 63. 113) Aut. nn. 106-111. 114) Aut. nn. 130, 135, 192-467. 115) Aut. nn. 538-544. 116) Aut. nn. 637-641. 117) Doc. Autob. XV: discurso sobre a infalibilidade pontifícia. 118) Propósitos de 1869: exame particular, 3. 119) Clotet, Jaime, Resumen de la admirable vida del Excmo. e Ilmo. Sr. Don Antonio María Claret y Clará (Barcelona 1882) pp. 118-119.

Protetor das pessoas que estão em perigo ou nas mãos de malfeitores


Fundador das Congregações: Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria (Padres Claretianos) e Irmãs de Ensino Maria Imaculada (Irmãs Claretianas)


Origens


Nascido em dezembro de 1807, num povoado chamado Sallent, perto de Vic e de Barcelona, Espanha, Antônio Claret y Clara foi batizado num dia de Natal. Foi o quinto filho entre dez. Seu pai era tecelão e seu lar era cristão. Na família, recebeu o exemplo e a doutrina do seguimento de Jesus Cristo, bem como a devoção à Virgem Maria e um grande amor à eucaristia. Ainda criança, aprendeu a profissão de tecelão, com o pai. Depois, a de tipógrafo. A tipografia o influenciaria bastante na ousadia de evangelizar pelos meios de comunicação.


Chamado de Deus


Ainda adolescente, Antônio Claret sentiu um forte chamado para se colocar a serviço de Deus como religioso. Por isso, decidiu acrescentar o nome "Maria" ao seu. Ele queria, com isso, testemunhar que dedicaria sua vida a Nossa Senhora. E ele viveu uma vida extraordinária, dedicada a fazer o bem, à caridade e ao amor próximo.


Discernimento


Antônio Maria Claret trabalhou juntamente com seu pai numa fábrica de tecidos. Por causa de sua competência e dom de comunicação, foi convidado para trabalhos bastante rentáveis. Porém, recusou a todos por causa de sua vocação religiosa. Depois, quando tinha vinte e um anos, entrou no Seminário de Vic. Seu objetivo era se tornar monge cartuxo. Porém, um sacerdote percebeu sua vocação missionária e os dons para ser um homem de ação dentro da Igreja. Dócil ao Espírito Santo, Antônio Maria Claret obedeceu.


Começa a vida de missionário


Antônio Maria Claret foi ordenado em 1835. Em seguida, recebeu a nomeação de pároco de sua terra natal. Ali, ficou durante quatro anos. Depois disso, foi para Roma, mais precisamente para uma entidade da Igreja chamada Propaganda Fides (Propagação da Fé) e passou a ser missionário apostólico. Neste ministério, viveu anos de árduo trabalho, dedicando-se inteiramente ao serviço pastoral na Espanha. Este seu trabalho rendeu muitos frutos para a Igreja. Por causa do êxito de seu trabalho, foi enviado para as Ilhas Canárias, uma região difícil no campo da missão, no ano 1948.


Primeira fundação


Porém, o Padre Antônio Maria Claret sentia em seu coração o ardente desejo de iniciar uma obra de alcance mais amplo. Assim, no ano 1849, junto com outros cinco jovens padres, ele fundou a Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria. Mais tarde, esta congregação passou a ser chamada de Padres Claretianos, por causa da força de seu carisma.


Bispo de Cuba


Pouco tempo depois da fundação da congregação, a longínqua diocese de Cuba vivia um tempo de enorme dificuldade. Estava sem bispo há quatorze anos. Assim, mesmo ano da fundação da congregação, Padre Antônio Maria Claret foi nomeado seu arcebispo. Novamente, colocou-se a serviço e ficou evidente que Nossa Senhora jamais o abandonava.


Perseguições na ilha de Cuba


Em Cuba, passou a ser vítima constante de toda a sorte de pressões por parte de lojas maçônicas. Estas, faziam violenta oposição aos padres, e provocaram vários atentados contra a sua vida. Puseram fogo numa casa em que ele estava, misturaram veneno a seus alimentos, bateram nele várias vezes e o assaltaram à mão armada outras tantas. Porém, Santo Antônio Maria Claret sempre escapava ileso e continuava sua missão sem retroceder.


Missão em Cuba – Congregação feminina


Santo Antônio Maria Claret restaurou o velho seminário cubano, que, por causa de seu exemplo de santidade, passou a receber inúmeras vocações. Apoiou negros e índios, tornados escravos e procurava liberta-los. No ano 1855, com o auxílio de madre Antônia Paris, fundou uma nova congregação religiosa, que passou a se chamar Congregação das Irmãs de Ensino Maria Imaculada. Mais tarde, receberam o apelido carinhoso de Irmãs Claretianas. Por causa de seu empenho missionário, Cuba ganhara várias outras dioceses. Ele fez questão de fazer visitas pastorais a cada uma delas. Nessas visitas, levava força e ânimo para os cristãos que mergulhavam num trabalho sempre mais difícil e sempre mais necessário.


De volta à Europa


Em 1857 Santo Antônio Maria Claret voltou a Madri, deixando a Igreja de Cuba mais fortalecida, unida e resistente. Em sua volta à Espanha, a rainha Isabel II pediu que ele passasse a ser seu confessor. Mesmo sem querer tal cargo para não se envolver com política, aceitou, vendo também nisso um chamado de Deus. Nessa época, teve tempo para escrever e sua obra literária cresceu bastante. Ele juntou a ela seus incontáveis sermões cheios de sabedoria. No ano 1868, fez-se solidário com a rainha e acompanhou-a no exílio na França. Lá, permaneceu junto com a família real. Porém, continuou sua missão apostólica de grande escritor. Na França, achou tempo e forças para dirigir a fundação de uma academia destinada aos artistas. Esta obra passou a subsistir sob a proteção de São Miguel Arcanjo.


Morte


Santo Antônio Maria Claret morreu com a idade de sessenta e três anos. Foi em 24 de outubro do ano 1870. Ele estava, então, no Mosteiro de Fontfroide, França. Ele deixou uma numerosa e importante obra escrita, que inspira e dirige almas até os dias de hoje. Sua beatificação foi celebrada pelo papa Pio XI. Este, chamou-o de "precursor da Ação Católica do mundo moderno". Sua canonização aconteceu em 1950, pelas mãos do Papa Pio XII.


Oração a Santo Antônio Maria Claret


“Ó glorioso santo, vós que em vida sofrestes tantos tipos de violência e perseguições, como atentados, assaltos e ameaças de morte, mas que, pela vossa fé e confiança em Deus e no Imaculado Coração de Maria, todas as vezes nos livrastes desses males, intercedei por mim; e livrai-me to perigo de ser assaltado, roubado ou sequestrado. Afastai de mim e de minha família toda espécie de violência física e moral. Amém. Santo Antônio Maria Claret, rogai por nós.” (Rezar um Pai-Nosso por todas as pessoas que se encontram em perigo ou nas mãos de malfeitores)



MARTIROLÓGIO ROMANO

24/10


1. Santo António Maria Claret, bispo, que, ordenado presbítero, durante vários anos pregou ao povo nas terras da Catalunha, região da Espanha; fundou a Sociedade dos Missionários Filhos do Coração Imaculado da Virgem Maria e, nomeado bispo para Santiago, na ilha de Cuba, trabalhou de modo admirável pela salvação das almas. Depois de regressar à Espanha, ainda teve de suportar muitas provações pela Igreja, morrendo exilado no mosteiro cisterciense de Frontfroide, próximo de Narbonne, na França meridional.

(† 1870)


2. Em Hierápolis, na Frígia, na hodierna Turquia, os santos Ciríaco e Claudiano, mártires.

(† data inc.)


3. Em Constantinopla, hoje Istambul, na Turquia, São Proclo, bispo, que proclamou com firmeza a Bem-aventurada Virgem Maria como Mãe de Deus, organizou o regresso do corpo de São João Crisóstomo, em cortejo triunfal, do exílio para esta cidade e, no Concílio Ecuménico de Calcedónia, mereceu o apelativo de «Magno».

(† 446)


4. Em Nagran, na Arábia, a paixão dos santos Aretas, príncipe da cidade, e trezentos e quarenta companheiros, no tempo do imperador Justino e de Du Nuwas ou Dun’an, rei dos Homeritas.

(† 523)


5. Na região de Tours, na Nêustria, atualmente na França, São Senóquio, presbítero, que construiu um mosteiro numas ruínas antigas, foi assíduo nas vigílias e na oração e se dedicou à caridade para com os escravos.

(† 576)


6*. No mosteiro de Vertou, no território de Retz, na Gália, também na atual França, São Martinho, diácono e abade, que São Félix, bispo de Nantes, enviou para converter os pagãos desta região.

(† s. VI)


7. Perto de Tongres, no Brabante da Austrásia, hoje na Bélgica, Santo Evergislo, bispo de Colónia e mártir, que, dirigindo-se para Poitiers no exercício da sua missão pastoral, foi assassinado por salteadores.

(† c. 590)


8. Na Bretanha Menor, na atual França, São Maglório, que, segundo a tradição, foi discípulo de Santo Iltuto, sucedeu a São Sansão como bispo de Dol e depois seguiu a vida solitária na ilha de Sark.

(† c. 605)


9*. Em Coutances, na Nêustria, também na atual França, São Fromundo, bispo, que fundou o mosteiro de monjas de Ham e exerceu o ministério pastoral no amor do Senhor.

(† s. VII)


10. Em Hué, no Anam, hoje no Vietnam, São José Lê Dang Thi, mártir, que, sendo militar no tempo do imperador Tu Duc, foi encarcerado por ser cristão; no meio dos tormentos nunca vacilou na fé, dando testemunho entre os seus companheiros de cativeiro, e finalmente foi estrangulado.

(† 1860)


11*. Em Como, na Itália, São Luís Guanella, presbítero, que fundou a Congregação dos Servos da Caridade e também a das Filhas de Santa Maria da Providência, para socorrer as necessidades dos mais indigentes e aflitos e conduzi-los à salvação.

(† 1915)


12*. Em Ronco all’Ádige, na província de Verona, também na Itália, o Beato José Baldo, presbítero, que, empenhado no ministério pastoral, fundou a Congregação das Pequenas Filhas de São José, para a assistência aos idosos e aos enfermos e para a formação das crianças e dos jovens.

(† 1915)



Beata Benigna Cardoso da Silva

No dia 1⁰ de setembro, quando celebramos a virgem-mártir Isabel Cristina Campos (+1982), elencamos algumas das jovens já beatificadas que, tais como outras “Marias Goretti’s”, derramaram seu sangue em defesa da castidade, vítimas do ódio não a Jesus Cristo especificamente, mas à virtude. E o número de meninas mortas sob tais circunstâncias é muitíssimo elevado, e, infelizmente, mesmo em nossos dias não para de aumentar.


O caso das “Goretti’s”, porém, é bastante peculiar porque envolve dois aspectos que precisam ser deixados claros no tocante à possibilidade de se abrir um processo de sua beatificação; perguntamos: elas foram e são meras vítimas da crescente onda de violência dos nossos tempos ou realmente são testemunhas de Jesus Cristo para o nosso mundo "sexualizado" e "sexualizante", que minimiza o valor da castidade e bestializa os homens?


Bem, este é um debate que rigorosamente não cabe a nós discutir, mas aos “postuladores” das causas, quer dizer, aos advogados de defesa, incumbidos da árdua missão de provar não apenas a inocência das vítimas do ódio à castidade, mas também a santidade de suas vidas, uma santidade que não necessariamente exige uma vida demasiado extraordinária, repleta de fenômenos místicos ou de milagres portentosos, mas que significa mais a disposição sincera de seguir Jesus Cristo até as últimas consequências – até o derramamento do próprio sangue, se necessário for.


E este é o caso da nossa Beata de hoje, que viveu uma vida muito simples, uma vida muito curta, convém observarmos, a respeito da qual inclusive conhecemos pouquíssimas coisas. Seu grande “feito”, digamos assim, foi exatamente o testemunho cruento que foi chamada a dar de sua fidelidade a Cristo, tendo sua vida ceifada na alvorada da adolescência...


E se o testemunho das novas “Goretti's” merece algum destaque – e sim, pensamos que sim, pois ele reflete tanto o ódio contra a virtude quanto também um dos mais graves problemas da violência de nossos tempos –, ainda mais o de Benigna, pois ao contrário de Pierina Morosini, de 26 anos de idade, de Verônica Antal, de 23, e de Isabel Cristina Campos e Tereza Bracco, ambas de 20, ela era ainda muito menina quando foi assassinada “in defensum castitatis” (em defesa da castidade): um ano e três meses mais velha que Maria Goretti, que foi morta em 1902, contando na ocasião os 11 anos e 09 meses de vida, ela havia completado seu 13⁰ aniversário há apenas nove dias, encerrando abrupta e precocemente sua carreira neste mundo. Como uma fruta madura, no entanto – ainda que possamos considerá-la amadurecida à força –, ela foi colhida por Deus e levada aos jardins do Paraíso, e seu sacrifício, assim como o de Abel, foi aceito pelo Criador, produzindo muitos frutos antes mesmo de a Igreja dar-se conta de sua doçura e esplendor...


Benigna nasceu no dia 15 de outubro de 1928, em Santana do Cariri, no estado brasileiro do Ceará, mais especificamente no “Sítio Oitis”, no distrito de Inhumas. Seus pais foram o Sr. José Cardoso da Silva e a Sra. Theresa Maria da Silva. Benigna, no entanto, praticamente não os conheceu, uma vez que o senhor José faleceu antes mesmo dela nascer e a mãe quando ela mal havia completado seu primeiro ano de vida. Por conseguinte, a pequena órfã e seus irmãos – Carmélia, Alderi e Cirineu – foram confiados aos cuidados das senhoras Rosa e Honorina Sisnando Leite, que eram proprietárias do “Sítio Oitis”...


Segundo o testemunho de algumas pessoas que conheceram Benigna de perto, nela se destacavam diversas virtudes: ela era muito simples e modesta, humilde e generosa, reservada, obediente e muito disposta a ajudar nas atividades domésticas, tímida, mas muito simpática, religiosa e contemplativa; em outras palavras, era uma boa filha, amiga e aluna. Em referência à escola, além do mais, ela se destacava por sua pontualidade e por sua dedicação. Compadecida dos colegas menos brilhantes, costumava ajudá-los em suas tarefas para não vê-los castigados com a palmatória ou de joelhos sobre grãos de milho. Quando não conseguia ajudá-los ou quando seus esforços não eram suficientes, ficava muito triste e chegava até mesmo a chorar quando algum deles acabava sendo punido. Uma outra lembrança muito sensível dela que também foi apontada por testemunhas oculares é a que nos dá conta de sua preocupação com a preservação da natureza: sempre enquanto ia em direção à escola, não permitia que as demais crianças arrancassem as flores pelo caminho ou puxassem e quebrassem os galhos das árvores, não inutilmente, não simplesmente para maltratar as plantas...


Já na casa de suas tutoras, enquanto crescia, Benigna dividia seu tempo entre os estudos e as brincadeiras inocentes próprias de sua idade; ela gostava de brincar de boneca, de “casinha” e de cantar cirandas, dentre as quais uma que, segundo suas irmãs de criação, Irani e Terezinha Sisnando, era sua preferida, e que dizia assim: “Carneirinho, carneirão-neirão-neirão,/ Olhai pro céu, olhai pro chão, pro chão, pro chão./ Manda o rei, Nosso Senhor, Senhor, Senhor,/ Para todos se ajoelharem etc.”

No que diz respeito à sua religiosidade, Benigna era piedosa, e desde muito pequena sonhava em fazer sua primeira comunhão. Depois, quando pôde receber o santíssimo sacramento, cuidou de dar o melhor testemunho para os de sua idade: ao contrário de muitas crianças, que depois de receber a comunhão desapareciam da paróquia, ela frequentava regularmente as Missas e sempre assistia as celebrações com atenção e profunda devoção. Incentivada por sua tia “Bezinha” e por sua madrinha “Ozinha”, ela dedicava as primeiras sextas-feiras de cada mês ao Sagrado Coração de Jesus, sempre oferecendo a Ele jejuns e penitências em desagravo de tantos pecados cometidos contra a Lei de Deus e contra os mandamentos da Igreja...


Enfim, a vida de Benigna, até quase os seus treze anos de idade, podemos considerá-la resumida até aqui. Como dissemos acima, sua história não evidencia nenhum dom extraordinário nem um “super-poder”, como que revelando-a como uma heroína em potencial. Assim, pois, cremos que, a despeito das virtudes que a tornavam uma menina “prendada”, não fossem os fatos que estamos para contar, ela teria vivido sua vida de forma muito pacata até alcançar a velhice e morrer esquecida numa casinha remota, passando despercebida pela história... Mas fato é que, quando ela estava prestes a completar os treze anos de idade, seu porte e fisionomia chamaram a atenção de um tal de “Raul”, apelido pelo qual era conhecido Raimundo Alves Ribeiro, um jovem de 17 anos.


Quanto ao aspecto de Benigna, ela era magra, tinha a pele morena-clara, os cabelos e os olhos castanhos, estatura média, rosto arredondado e queixo afinado. Ela possuía um leve estrabismo num dos olhos, o que não a fazia “feia”, quanto menos para “Raul”, que havia se apaixonado por ela. Ele, convencido de que a menina acabaria cedendo às suas seduções, passou a galanteá-la, inclusive lhe propondo namoro. Benigna, por sua vez, sempre se desvencilhou de seu “pretendente”, deixando claro que não desejava nada com ele, pois não o via como homem. “Raul”, no entanto, não desistiria fácil, e estava disposto a atormentar a alma de Benigna até que ela se entregasse a ele...


Muito incomodada com as impertinências de “Raul”, e mesmo sem saber direito a quem recorrer, Benigna procurou então o vigário do lugar, padre Cristiano Coelho Rodrigues, para pedir alguns conselhos. O padre lhe aconselhou que resistisse às seduções de seu admirador, pois o que ele pretendia – e como pretendia – era pecado. Ele também sugeriu que Benigna mudasse de escola e fosse estudar em Santana do Cariri, para assim evitar o confronto com o assediador. Além disso, preocupado com a alma dela, presenteou-a com uma versão ilustrada da Bíblia, livro este que se tornou um companheiro inseparável de Benigna nos meses seguintes, pois ali, nas histórias do Antigo e do Novo Testamento, ela buscava fortalecer ainda mais sua fé.


Quanto à mudança de escola, não estava bem ao alcance dela pedir sua transferência, e também isto não poderia ser feito “da noite para o dia”, como costumamos dizer. Fato é que, de uma forma ou de outra, isto não faria muita diferença, pois “Raul” estava vigiando os passos de sua pretendida, e planejava surpreendê-la e forçá-la àquilo que queria...


Alguns meses foram se passando. No dia 24 de outubro de 1941, uma sexta-feira, já sabendo de antemão qual percurso Benigna seguiria – haja vistas que ela costumava fazer o mesmo trajeto todas as tardes –, “Raul” armou uma emboscada e ficou à espreita. Profeticamente, Benigna usava naquele dia seu vestido vermelho com bolinhas brancas – o vermelho é a cor do martírio, e o branco a cor da pureza –, e trazia consigo um pote de barro, pois era responsabilidade sua buscar água num lugar remoto, ali mesmo nos domínios do Sítio Oitis. Com a aproximação da garota, “Raul” saiu de seu esconderijo e obstaculizou seu caminho, fazendo a ela as mesmas propostas indecorosas de sempre. Benigna, porém, se negou veementemente a se entregar a ele; mas aquela seria a última vez que ela o rejeitaria: muito revoltado, ele então a agarrou e, já de caso premeditado, tendo trazido na cintura um facão, desferiu contra ela quatro golpes, deixando-a por morta no meio da mata.


Imediatamente caindo em si, arrepiado com a barbárie do que havia feito, “Raul” fugiu. Foi Cirineu, irmão de Benigna, quem encontrou o corpo dela, horas depois do crime, já frio e sem vida. De imediato a polícia local foi acionada, dando início à caçada do assassino. Alguns suspeitos foram detidos no decorrer dos dias, dentre os quais o próprio Cirineu, mas também “Raul”, que por fim confessou seu delito.


Tanto por meio de seus depoimentos quanto por meio dos exames feitos no corpo de Benigna, nos damos conta de que o primeiro golpe que ela sofreu lhe feriu gravemente uma das mãos, lhe arrancando por inteiro três dedos – mesmo tão horrivelmente ferida, ela encontrou forças para resistir às investidas de seu agressor; o segundo golpe atingiu sua testa, e o terceiro as costas, perfurando-lhe um dos rins; o quarto e fatal golpe lhe foi desferido no pescoço, praticamente decepando-lhe a cabeça. Ela, como já dissemos acima, havia completado os 13 anos de idade há apenas nove dias...


Sepultado em Santana do Cariri já no dia seguinte, o corpo dilacerado de Benigna foi tratado com honra pelos moradores locais, pois apesar da revolta e da consternação, uma profunda quietude tomou conta de todos, e muitos entenderam seu caso como um autêntico martírio. Dentre, pois, os primeiros devotos de Benigna, se encontrava o padre Cristiano, aquele mesmo que a havia aconselhado pouco tempo antes de seu sacrifício; ele mandou que fosse colocado junto ao túmulo da menina uma epígrafe: “Morreu martirizada, às 4 horas da tarde, no dia 24 de outubro de 1941, no Sítio Oiti. Heroína da Castidade, que sua santa alma converta a freguesia e sirva de proteção às crianças e às famílias da paróquia. São os votos que faço à nossa santinha”... Seguidamente, muitos fiéis foram ao túmulo e ao local do martírio de Benigna, alcançando graças por intercessão dela.


Seu próprio assassino, é oportuno dizer, declarou publicamente seu arrependimento, cumpriu sua pena, e cinquenta anos depois de todo o ocorrido, rezou junto do túmulo de Benigna, rogando sua intercessão para que ela o ajudasse a ser um bom cristão...


Considerada uma “santinha do povo”, quer dizer, sem a devida aprovação da Igreja, Benigna esperou silenciosa em seu túmulo por setenta anos, até que, em 2011, a diocese de Crato, que abrange a região de Santana do Cariri, deu início a uma esmerada investigação sobre as circunstâncias de seu assassinato.


Todo o processo, que incluía o juramento de algumas testemunhas oculares – dentre as quais as irmãs de criação de Benigna, que ainda viviam –, foi então encaminhado a Roma e declarado válido em janeiro de 2015. Depois, com a aprovação do conselho de consultores teológicos em outubro de 2018, a beatificação de Benigna podia ser dada como certa, faltando apenas a promulgação do decreto sobre o martírio, que devia ser autorizada pelo papa... Foi no dia 02 de outubro de 2019 que o papa Francisco recebeu em audiência privada o então prefeito da “Congregação para as Causas dos Santos”, o cardeal Angelo Becciu, autorizando a promulgação do referido documento...


A beatificação de Benigna estava prevista para ocorrer um ano depois, em 2020. O rito, contudo, teve de ser adiado em decorrência da pandemia do CoVid-19. Uma nova data foi marcada e, finalmente, no dia 24 de outubro de 2022, no 81⁰ aniversário do seu glorioso martírio, ela foi oficialmente proclamada “Beata”. Na solene ocasião, o então arcebispo de Manaus, o cardeal Leonardo Ulrich Steiner, que presidiu a Missa, declarou durante a homilia: “Benigna foi à fonte em busca de água. Conhecia o caminho para matar a sede, servir aos da casa, regar as plantas. Lugar da água, da vida, tornou-se lugar da agressão, da violência, torna-se lugar da morte. Lugar da morte, fonte de resistência, de transparência, de fortaleza, de dignidade. Junto à fonte, Benigna oferece a sua vida na fidelidade a Jesus (...). Bem ressoam as palavras do Apóstolo diante da brutalidade, mesmo dos nossos dias em relação às crianças abusadas e o feminicídio, e diante da figura iluminadora de nossa Beata: ‘Somos afligidos de todos os lados, mas não vencidos pela angústia; postos entre os maiores apuros, mas sem perder a esperança; perseguidos, mas não desamparados; derrubados, mas não aniquilados' (...). Benigna, exemplo de não subjugação das mulheres, defensora da própria força e valor, da dignidade e da beleza, da sexualidade e da maternidade, do vigor e da ternura. Preferiu a morte que a paixão, preferiu a morte que romper com a sua dignidade (...). Heroína da castidade! Que a sua santa alma converta esta paróquia e seja a proteção das crianças e das famílias!”


Por fim, vitoriosa sobre as maiores forças do mundo inimigo, a “benigna Benigna” reluz no firmamento da Igreja, de onde intercede por nós junto às almas de outras meninas que seguem em processo de beatificação, tais como a portuguesa Maria Vieira da Silva (+1940), a mexicana Maria Estela Sánchez Lomelí (+1968) e a nigeriana Vivian Uchechi Ogu (+2009) – a respeito das jovens assassinadas em circunstâncias semelhantes, falaremos ainda no dia 18 de novembro, quando celebraremos a Beata Karolina Kózka. A todas, esperamos um dia ver elevadas às honras dos altares como “Santas”, para a maior glória de Deus e se esta for sua santa vontade...


OREMOS: “Ó Deus, que hoje nos alegrais com a anual comemoração da Beata Benigna Cardoso, concedei propício que nos ajudem os méritos daquela cujos exemplos de castidade e fortaleza nos iluminam. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém”.


ANEXO:

Hino em honra à Beata Benigna

Composição do diácono José Santana, de Mauriti.


Bendita Benigna, de um manso amor,/ flor do jardim do Coração de Deus./ Seu sangue regou a árida terra./ No sangue de Cristo, seu sangue se encerra...


Bendita Benigna, mártir inocente,/ seu sangue na terra agora é semente./ Quando a sua alma a Deus se entregou,/ em suave perfume, o perdão fez-se amor...


Honrastes a Deus entregando a sua alma,/ alma santa, alma pura, alma imaculada!/ Nos braços do Pai, uma filha amada...


Bendita Benigna, esperamos no céu / um rastro de luz faz a noite mais bela./ Farol tão bonito quanto o arrebol,/ entre anjos de Deus, é a virgem singela...


Bendita Benigna, mártir da pureza,/ banhada em seu sangue, por entre gemidos,/ pr'os aflitos da terra, diante do amor,/ nos braços do Pai, sede em nosso favor...

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