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Sérgio Fadul - Sanctorum

São Casimiro


São Casimiro, a força da pureza no combate pela Fé


Esse jovem Príncipe polonês tornou-se um exemplo de cavaleiro cristão, modelo de castidade e baluarte da Igreja contra o cisma russo e a heresia protestante. Detentor de merecidos títulos de grandeza terrena como Príncipe da Polônia e Rei natural da Hungria, São Casimiro foi, entretanto, maior ainda por sua inteira submissão à vontade de Deus. Seguindo as pegadas de Nosso Senhor Jesus Cristo, procurou moldar sua alma segundo a fisionomia moral do Divino Redentor, tornando-se o primeiro santo jovem leigo da era dita moderna.


Foi ele o segundo dos 13 filhos que teve Casimiro IV (1427-1492), Duque da Lituânia e Rei da Polônia, com a Princesa austríaca Elisabeth de Habsburgo, filha de Alberto II, Imperador do Sacro Império Romano Alemão.


Casimiro nasceu em 3 de outubro de 1458, no castelo de Wawel, em Cracóvia. Para a educação de seus filhos, Casimiro IV nomeou o polonês João Dlugosz (1415-1480), Cônego de Cracóvia, que se distinguia por grande saber e provada virtude. Era costume na época colocar os príncipes sob a influência de professores filiados a correntes renascentistas. Por isso o jovem Príncipe Casimiro, que teve como mestre o italiano Filippo Bonaccorsi, cognominado Calímaco, o qual ensinou-lhe latim e retórica. Esse mestre passou a chamar o discípulo jovem divinizado, por causa de suas virtudes.


Visando sujeitar seu corpo às leis do espírito, Casimiro utilizava-se do cilício e da disciplina, jejuava e dormia em dura terra, em meio ao ambiente de frivolidade que as cortes renascentistas criavam. Com isso sua alma desprendia-se dos prazeres fáceis da vida mundana, evolando para celestes grandezas da perfeição cristã. A paz interior de sua alma manifestava-se na louçania e serenidade do seu semblante, afeito à contemplação. Mesmo com as ocupações inerentes ao seu alto cargo, não se esquecia que, além dos deveres de estado, mais ainda devia zelar pela honra do Divino Salvador, que padeceu cruéis sofrimentos por amor aos homens.


Sua alegria consistia em estar junto ao Sacrário para adorar Aquele que é o Soberano absoluto de todos os corações, tanto dos reis quanto dos súditos. Por isso, entrando nas igrejas, ajoelhava-se diante de Jesus Sacramentado, esquecendo-se de tudo quanto era terreno. Passava aí muitas horas da noite na contemplação dos mistérios da Paixão. Muitas vezes, não continha as lágrimas ao contemplar o Divino Crucificado, considerando as ofensas por Ele suportadas, ao mesmo tempo em que ardia em desejos de repará-las. Seu rosto ficava então inundado por uma luz sobrenatural.


Tinha muita caridade para com os necessitados de qualquer espécie: amparava os fracos, encorajava os oprimidos e levava o bálsamo de uma palavra cheia de afeto aos prisioneiros, enfermos e angustiados. Se assim procedia em relação aos desvalidos, seu trato na Corte era igualmente exímio. Tinha tal aptidão para os estudos, que, aos 13 anos, proferiu primoroso discurso em latim, saudando o Legado Pontifício. Dois anos depois, com mesmo talento, homenageou o embaixador veneziano.


A pedido de seus partidários húngaros, esse casto e valente Príncipe, com apenas 13 anos de idade, em 2 de outubro de 1471 precisou armar-se como um verdadeiro guerreiro para conquistar a coroa de Santo Estevão, à frente de um exército de 12 mil homens. Não lhe faltavam, por parte de sua mãe, os títulos dinásticos para depor o então Rei da Hungria.


Do trono de São Pedro, Sixto IV, vendo que o perigo turco ameaçava a Cristandade europeia, interveio no sentido de serenar os ânimos, evitando assim a dispersão das forças cristãs em lutas intestinas. Mesmo tendo se submetido ao apelo do Papa, São Casimiro conservou o título de "senhor natural por direito de nascimento do reino de Hungria". Em suas terras, lutou valentemente para que a verdadeira Igreja fosse favorecida. Atacou duramente as heresias e os movimentos subversivos da época, tendo mesmo estabelecido um pacto de defesa anti-turca com os Estados italianos.


Após a morte de Sixto IV, São Casimiro tornou-se inquebrantável escudo da verdadeira ortodoxia contra as heresias provindas da pseudorreforma protestante e dos erros da igreja cismática russa. Acompanhou sempre seu pai na administração do reino bem como nas viagens que este empreendeu a reinos vizinhos. Por saber o latim, seu pai o utilizou em Danzig como intérprete no encontro que manteve com o Rei sueco Cristiano.


Aquela foi uma época em que se verificavam muitos confrontos do Rei polonês com os senhores feudais revoltados. Além disso, ferrenhos combates foram travados com os Cavaleiros da Ordem Teutônica, já em franca decadência, que foram obrigados a assinar um tratado de paz com o Reino polonês, mediante o qual cederam a este a Prússia Ocidental. Em 1483 ocupou-se da administração dos Ducados da Lituânia, preocupando-se sempre com o bem dos súditos. Nessa ocasião que seu pai manifestou-lhe o desejo de que ele se casasse com a filha do Imperador alemão Frederico III.


Tendo São Casimiro contraído tuberculose, os médicos julgavam que o casamento o curaria, pois acreditavam que a vida austera do jovem Príncipe era a causa da doença. Singular constatação! São Casimiro, porém, preferiu permanecer fiel a seu voto de castidade perfeita. A tuberculose na época era uma doença incurável. Assim a moléstia agravou-se rapidamente e sua morte não tardou.


Com os olhos postos numa imagem do Crucificado e invocando Maria Santíssima, ele a enfrentou com a serenidade de alma própria aos santos. Recebeu com devoção os santos sacramentos, e em 4 de março de 1484 entregou sua alma ao Criador.


Suas últimas palavras, depois de oscular com amor o crucifixo, foram: "Em vossas mãos, ó Jesus, entrego o meu espírito".


Sua alma, segundo testemunhas, subiu ao Céu em meio a grande luminosidade.


Corpo incorrupto e perfume: imagens de castidade perfeita


A morte o colheu aos 25 anos, em Gardinas, mas seu corpo foi enterrado na catedral de Vilnius, capital da Lituânia, na capela dedicada a Nossa Senhora. O primeiro biógrafo do santo foi Zacarias Ferreri, enviado à Polônia a mando do Papa Leão X, para coletar dados sobre a vida de Casimiro, cuja santidade já era conhecida e confirmada por muitos milagres. Entre estes, destacam-se a cura de doentes incuráveis e a ressurreição de uma menina, natural de Vilnius.


O mesmo Papa Leão X canonizou São Casimiro em 1521.


Em 6 de agosto de 1604 -- para gáudio e edificação dos fiéis católicos e glória de São Casimiro -- sua sepultura foi aberta na presença de várias testemunhas. Devido a um milagre, seu corpo encontrava-se inteiramente incorrupto. As roupas também estavam intactas, apesar da umidade existente. Como admirável símbolo de sua castidade, o corpo exalava um agradável perfume.


Encontrou-se também em seu peito o hino Omni die dic Mariae laudes animae [Minha alma, cada dia, dirija um canto a Maria], um dos mais belos cânticos da Idade Média, dedicado à Virgem Santíssima (Acta Sanctorum, Martii I, Parisiis, 1865).


Seu nome é glorificado no calendário litúrgico em 4 de março, quando, segundo velho costume, milhares de fiéis vão venerar suas preciosas relíquias em Vilnius.


Em 1943 o Papa Pio XII proclamou São Casimiro Patrono principal da juventude lituana em qualquer parte do mundo.


É também Padroeiro da Polônia.


Admirável na Terra, mais ainda no Céu


São famosas, ainda, as aparições de São Casimiro.


A primeira deu-se no ano de 1518 quando um grande exército moscovita estava prestes a dominar a cidade de Polotsk, baluarte na defesa da Lituânia, situada na confluência dos rios Dauguva e Palata.


O fogoso exército lituano, composto de dois mil homens partiu intrépido para socorrê-la. Entretanto o transbordamento do rio Dauguva impedia que eles alcançassem o inimigo, postado à outra margem. O que fazer? Enquanto estavam nesse impasse, os lituanos viram surgir um jovem cavaleiro montado em corcel branco, convidando-os a segui-lo rumo à outra margem.


Impelidos pelo entusiasmo, os lituanos seguiram o valente cavaleiro, e atravessando o rio num lugar propício atacaram os moscovitas, alcançando brilhante vitória. O cavaleiro da veste alva desapareceu como por encanto. Mas todos reconheceram nele São Casimiro, seu protetor.


Outra aparição ocorreu em 1654 ao comandante russo Sermetjev, que ocupara a cidade de Polotsk e transformara a igreja em estábulo. O Santo apareceu-lhe, increpando-o de tentar a Deus, que o puniria de modo exemplar.


As aparições de São Casimiro tornaram-se um símbolo da luta contra Moscou e a propagação da igreja cismática russa. Por esse motivo a Rússia czarista votava um ódio implacável ao Santo, cerceando-lhe o culto de todos os modos.


Uma frase em latim, alusiva a São Casimiro bem sintetiza a extraordinária vida do jovem Príncipe polonês neste mundo e sua gloriosa atuação após ter alcançado a bem-aventurança eterna: "Casimiro, admirável na Terra, mais admirável ainda no Céu".


Ó DEUS ,

QUE, ENTRE OS ATRATIVOS DA CÔRTE E AS SEDUÇÕES DO MUNDO, CONSOLIDASTES ADMIRAVELMENTE NA VIRTUDE O BEM-AVENTURADO CASIMIRO, CONCEDEI-NOS, POR SUA INTERCESSÃO,

A GRAÇA DE DESPREZARMOS TAMBÉM OS BENS DA TERRA E DE ASPIRAR APENAS AOS DO CÉU. POR NOSSO SENHOR. AMÉM



No dia 4 de março de 1484, o jovem de 26 anos faleceu em Grodno, de tuberculose pulmonar. No ano de 1604, o túmulo foi aberto porque seus restos mortais seriam transladados para a Igreja que Sigismundo III mandara construir. Aberta a tumba, encontraram seu corpo intacto, como se o santo estivesse apenas adormecido e, entre as mãos, este hino dedicado à Virgem Santíssima:


A cada dia, ó minh´alma, rende homenagens a Maria, Soleniza suas festas e celebra suas virtudes resplandecentes; Proclama e admira a elevação de sua alma a Deus;

Proclama a sua felicidade, como Mãe e como Virgem; Honra-a para que ela te libere do peso de teus pecados; Invoca-a para não seres arrastado pela torrente das paixões; Eu bem sei; ninguém é capaz de, dignamente, honrar Maria; Insensato é, pois, aquele que se cala sobre os seus louvores; Todos os homens devem exaltá-la e louvá-la de forma especial, E jamais devemos nos abster de venerá-la e de invocá-la; Ó Maria, a honra e a glória de todas as mulheres, Vós que fostes elevada por Deus acima de todas as criaturas; Ó Virgem misericordiosa, atendei as preces daqueles que não vos louvam insistentemente; Purificai os culpados e tornai-os dignos de todos os bens celestes;

Salve, ó Virgem Santa, vós, por meio de quem as portas do Céu foram abertas aos miseráveis, Vós que jamais fostes seduzida pelas artimanhas da serpente; Vós, a reparadora, a consoladora das almas em desespero, Preservai-nos dos males que se abaterão sobre os perversos; Rogai a Deus por mim, para que eu possa usufruir da paz eterna, E que eu não tenha a infelicidade de ser prisioneiro das chamas do pântano de fogo;

Rogai para que eu seja casto e modesto, doce, bom, sóbrio, piedoso, prudente, correto e inimigo da mentira; Obtende para mim, a mansidão e o amor pela harmonia e pela pureza; Tornai-me firme e constante no caminho do bem.



MARTIROLÓGIO ROMANO

04/03


1. São Casimiro, filho do rei da Polónia, que foi um príncipe insigne no zelo pela fé, na castidade e na penitência, na benignidade para com os pobres e na piedosa veneração da Sagrada Eucaristia e da bem-aventurada Virgem Maria, e, ainda jovem, vítima da tuberculose, na cidade de Grodno, perto de Vilna, na Lituânia, hoje na Bielorrússia, descansou piedosamente no Senhor.

(† 1484)


2. Em Nicomédia, na Bitínia, hoje Izmit, na Turquia, os santos Fócio, Arquelau, Quirino e outros dezessete mártires.

(† s. III/IV)


3*. Em Tréveris, na Renânia da Austrásia, hoje na Alemanha, São Basino, bispo, descendente das famílias nobres do reino da Austrásia, que primeiro foi monge, depois abade de São Maximino de Tréveris, e, elevado à dignidade episcopal, aprovou a fundação do mosteiro de Ephternach, realizada por Santa Irmina.

(† 705)


4*. Em Comáquio, na Emília-Romanha, região da Itália, Santo Apiano, monge, que, enviado do mosteiro de Pavia, seguiu nesta cidade a vida eremítica.

(† s. VIII)


5*. No mosteiro de Cava de’ Tirréni, na Campânia, também região da Itália, São Pedro, que, depois de seguir desde a sua juventude a vida monástica, foi eleito bispo de Policastro, mas, insatisfeito com o bulício da vida mundana, regressou ao mosteiro, onde foi constituído abade e restaurou admiravelmente a observância religiosa.

(† 1123)


6*. Em Chambéry, na Savóia, hoje na França, o Beato Humberto, terceiro conde da Sabóia, que, constrangido a abandonar o claustro para presidir à governação civil, praticou fervorosamente a vida monástica, à qual pouco tempo depois regressou.

(† 1188)


7*. Em Londres, na Inglaterra, os beatos Cristóvão Bales, presbítero, Alexandre Blake e Nicolau Horner, mártires, que, na perseguição da rainha Isabel I, receberam ao mesmo tempo a coroa de glória.

(† 1590)


8♦ Em Vannes, na Bretanha, região da França, a Beata Maria Luísa (Isabel de Lamoignon Molé de Champlatreux), viúva, mãe de S. Luís e fundadora das Irmãs da Caridade de São Luís, que, evitando o fausto e a riqueza da sua família nobre, viveu pobre e para os pobres, e se dedicou ao ensino dos ignorantes e à educação das crianças no caminho da virtude.

(† 1825)


9*. No cenóbio de Saint-Sauveur-le-Vicomte, na Normandia, região da França, a Beata Plácida (Eulália Viel), virgem, que resplandeceu pelo seu zelo e humildade no governo da Congregação das Escolas Cristãs da Misericórdia.

(† 1877)


10*. Em Vicenza, na Itália, São João António Farina, bispo, que desenvolveu uma intensa e multiforme atividade pastoral e fundou o Instituto das Irmãs Mestras de Santa Doroteia Filhas dos Sagrados Corações, destinado a trabalhar na formação das jovens pobres e de todos os oprimidos e marginados.

(† 1888)


11♦. Em Wroclaw, na Polónia, o Beato Roberto Spiske, presbítero diocesano, fundador da Congregação das Irmãs de Santa Edviges.

(† 1888)


12*. Em Berezwecz, perto de Glebokie, cidade da Polónia, os beatos Miecislau Bohatkiewicz, Ladislau Mackowiak e Estanislau Pyrtek, presbíteros e mártires, que, durante a guerra, por causa da sua fé em Cristo foram encerrados no cárcere e fuzilados.

(† 1942)


13♦. Em Kistarcsa, próximo de Budapeste, na Hungria, o Beato Zoltan Lajos Meszlényi, bispo de Esztergom-Budapeste e mártir.

(† 1951)

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