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Foto do escritorSérgio Fadul / Santos e Beatos Católicos

São Gaudêncio de Brescia


Gaudêncio pode bem enumerar-se entre os grandes personagens do século IV, ao lado de santo Ambrósio, são Jerônimo e santo Agostinho.


“Tu tens um talento tão vivo”, escreve-lhe Rufino de Aquiléia, “e uma tal gentileza de espírito, que é necessário colocar por escrito e publicar tudo o que dizes nas conversas normais ou na pregação na igreja”.


Todavia, Gaudêncio não se considerava um escritor, tampouco teria empunhado a pena se não houvesse sido instado pelo amigo Benévolo, que — impedido por uma doença e não podendo dirigir-se à igreja para escutar suas lições sobre as Sagradas Escrituras — pediu-lhe desse uma cópia dos dez sermões.


Gaudêncio o satisfez e, dado que o escrito era estritamente reservado ao amigo enfermo, aproveitou para redigir um longo prefácio. Nele discorreu sobre o providencial desígnio divino que, a partir da dor física ou moral, sabe tirar um grande bem espiritual.


Benévolo não se contentou em ler e guardar os sermões para si. Mandou tirar cópias deles, enviando-os a alguns amigos. E um dos novos destinatários dirigiu-se ao bispo para pedir alguns esclarecimentos.


Assim, Gaudêncio se tornou um escritor contra sua vontade, como contra sua vontade foi eleito bispo de Bréscia e retirado de sua solidão do cenóbio de Cesaréia da Capadócia.


Ao que parece, santo Ambrósio precisou recorrer a um subterfúgio para fazê-lo aceitar suceder ao bispo Filástrio, morto em 387.


São Gaudêncio foi consagrado bispo por Ambrósio em 387 e um relato de seu discurso na ocasião ainda existe. E depois o levou consigo a Milão para que houvesse um ciclo de homilias em sua igreja.


Nele, Gaudêncio afirma ter trazido consigo relíquias de São João Batista, dos apóstolos, de santos de Mediolano (moderna Milão) e dos Quarenta mártires de Sebaste da Terra Santa, estas últimas entregues a ele pelas sobrinhas de São Basílio, o Grande, em Cesareia na Capadócia .


Ele depositou todas elas na basílica batizada de "Concilium Sanctorum" e escreveu um sermão especialmente para a inauguração.


Em 405, Gaudêncio foi enviado pelo papa Inocêncio I a Constantinopla, para defender a causa do patriarca João Crisóstomo, mandado ao exílio pela intrigante imperatriz Eudóxia.


Mal acolhida a delegação, Gaudêncio foi direto para o cárcere. São João Crisóstomo, em tal ocasião, escreveu-lhe uma bela carta de consolação.


Gaudêncio morreu em Bréscia, em 410, data infausta para a sorte do Império Romano.



Dos Tratados de São Gaudêncio de Bréscia, bispo


Dos Tratados de São Gaudêncio de Bréscia, bispo Século IV

(Tract.2: CSEL68,26.29-30)



A Eucaristia, páscoa do Senhor


Um só morreu por todos. É ele mesmo que em todas as igrejas do mundo, pelo mistério do pão e do vinho, imolado, nos alimenta, acreditado, nos vivifica e, consagrado, santifica os que o consagram.


Esta é a carne e este é o sangue do Cordeiro. É o mesmo pão descido do céu que diz: O pão que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo (Jo 6,51). Também o seu sangue está expresso sob a espécie do vinho. Ele mesmo afirma no Evangelho: Eu sou a videira verdadeira (Jo 15,1), manifestando com toda clareza que é seu sangue todo vinho oferecido como sacramento da paixão. O grande patriarca Jacó já profetizara acerca de Cristo, ao dizer: Lavará no vinho a sua túnica e no sangue da uva o seu manto (Gn 49,11). Na verdade, haveria de lavar no seu próprio sangue a túnica do nosso corpo, que tomara sobre si como uma veste.


O Criador e Senhor da natureza, que produz o pão da terra, também transforma o pão no seu próprio Corpo (porque pode fazê-lo e assim havia prometido); do mesmo modo, aquele que transformou a água em vinho, transforma o vinho no seu sangue.


Diz a Escritura: É a páscoa do Senhor (Ex 12,11), isto é, a passagem do Senhor. Por isso não julguemos terrestres os elementos que se tornaram celestes, porque o Senhor “passou” para essas realidades terrestres e transformou-as no seu corpo e no seu sangue.


O que recebes é o corpo daquele pão do céu, e o sangue é daquela videira sagrada. Porque, ao dar o pão e o vinho consagrados a seus discípulos, disse-lhes: Isto é o meu corpo. Isto é o meu sangue (Mt 26,26.28). Acreditemos, portanto, naquele em quem pusemos a nossa confiança: a Verdade não sabe mentir.


Quando Jesus falava sobre a necessidade de comer seu corpo e de beber seu sangue, a multidão,

desconcertada, murmurava: Esta palavra é dura! Quem consegue escutá-la? (Jo 6,60).


Querendo purificar com o fogo celeste tais pensamentos – que deveis evitar, como já vos disse – ele acrescentou: O Espírito é que dá vida, a carne não adianta nada. As palavras que vos falei são espírito e vida (Jo 6,63).



Dos Tratados de São Gaudêncio, bispo de Bréscia

(Tract.2:CSEL68,30-32) (Séc.V)


O dom do Novo Testamento concedido como herança

O sacrifício celeste instituído por Cristo é verdadeiramente um dom do Novo Testamento concedido como herança; é o dom que ele nos deixou como garantia da sua presença, na noite em que foi entregue para ser crucificado.

Este é o viático da nossa peregrinação. É o alimento que nos sustenta nos caminhos desta vida até o dia em que, partindo deste mundo, formos ao encontro do Senhor. Pois ele mesmo disse: Se não comerdes a minha carne e não beberdes o meu sangue, não tereis a vida em vós (cf. Jo 6,53).

Ele quis efetivamente com seus dons permanecer junto de nós; quis que as almas, remidas com o seu sangue precioso, se santificassem continuamente pelo memorial de sua Paixão. Por esse motivo, ordenou aos seus discípulos fiéis, constituídos como primeiros sacerdotes de sua Igreja, que sem cessar celebrassem estes mistérios da vida eterna. É necessário, portanto, que estes sacramentos sejam celebrados por todos os sacerdotes em cada Igreja do mundo inteiro, até que Cristo desça novamente dos céus. Deste modo, tanto os sacerdotes como todo o povo fiel, tendo diariamente ante os olhos o sacramento da Paixão de Cristo, tomando-o nas suas mãos e recebendo-o na boca e no coração, guardem indelével a memória de nossa redenção.

Com razão se considera o pão como uma imagem inteligível do Corpo de Cristo. De fato, assim como para fazer o pão é necessário reunir muitos grãos de trigo, transformá-los em farinha, amassar a farinha com água e cozê-la ao fogo, assim também o Corpo de Cristo reúne a multidão de todo o gênero humano e o leva à perfeita unidade de um só corpo por meio do fogo do Espírito Santo.

Cristo nasceu pelo poder do Espírito Santo. E porque convinha que nele se cumprisse toda a justiça, penetrou nas águas do batismo para santificá-las, e saiu do rio Jordão cheio do Espírito Santo que tinha descido sobre ele em forma de pomba. O evangelista dá testemunho disso dizendo: Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão (Lc 4,1).


Do mesmo modo, o vinho do seu sangue, proveniente de muitos cachos, quer dizer, feito das uvas da videira por ele plantada, espremido no lagar da cruz, fermenta por si mesmo em amplos recipientes que são os corações dos fiéis.


Todos vós, pois, que fostes libertados do Egito e do poder do Faraó, isto é, do demônio, recebei com santa avidez de coração junto conosco, este sacrifício pascal portador de salvação. E assim, sejamos santificados até o mais íntimo de nosso ser por Jesus Cristo nosso Senhor, que cremos estar presente em seus sacramentos. Seu poder inestimável permanece por todos os séculos.


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