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Foto do escritorSérgio Fadul / Franciscanos

São Pedro de Alcântara




São Pedro de Alcântara, Presbítero Franciscano. Reformador da Ordem Franciscana, grande Místico.


São Pedro de Alcântara, um dos maiores luzeiros da Igreja.


Nascido em Alcântara, pequena cidade da província de Estremadura, na Espanha, em 1499. Juan Garavito era seu nome de batismo. Seu pai, homem de grande influência política e econômica, Don Alonso Garavito, era advogado e governador da cidade; sua mãe, Dona María Vilela y Salabria, era de família nobre, possuidora de forte personalidade e de grande virtude. Juan estudou na escola local e, antes de concluir seus estudos de filosofia, seu pai vem a falecer, em 1507. Com a idade de 12 anos, seu padrasto, Alonso Barrantes, o envia para a Universidade de Salamanca, para a continuação de seus estudos

Como religioso, procurou sempre mais uma vida de maior austeridade, escolhendo sempre os trabalhos mais humildes; era um jovem muito preocupado com a formação pessoal...

Logo se tornou um estudante singular, pela sua aplicação às disciplinas acadêmicas, pela sua dedicação às pessoas carentes nas suas visitas aos doentes nos hospitais e pela sua constante inquietação sobre o sentido de sua vida e como consagrá-la a Deus de todo o coração. Durante as férias de verão, não se interessa nos passeios costumeiros, mas sim, passa a visitar os mosteiros do seu tempo e sonha em se consagrar a Deus, mas as formas de vida religiosa do seu tempo não o satisfazem. Pede a Deus, então, incessantemente que mostre o caminho, chegando um dia em que, após o término de suas aulas, ao ficar em oração em uma Igreja, vê entrar aqueles homens, todos com grande e extraordinária humildade de vida, vestidos de marrom, com uma corda de três nós e "descalços".


Como que impelido pelo Espírito Santo, lança-se ao encontro dos frades, conta-lhes a angústia que sente e pede orientação e é plenamente compreendido por Frei Francisco Fregenal da Custódia do Santo Evangelho. Estamos em 1515, quando então Juan, aos 16 anos de idade, resolve tornar-se "Franciscano Descalço", recebendo o hábito e o nome de Pedro de Alcântara, no convento de Manjaretes, situado entre Castela e Portugal.


Como religioso, procurou sempre mais uma vida de maior austeridade, escolhendo sempre os trabalhos mais humildes; era um jovem muito preocupado com a formação pessoal, preparando-se adequadamente por um estudo tranqüilo e meditativo dos manuais de ciências eclesiásticas, pastorais e ascético-místicos. Sobretudo alimentou sua formação com as obras atribuídas a São Boaventura, os Fioretti de São Francisco e com o estudo da Sagrada Escritura, especialmente os evangelhos, cujas passagens prediletas para sua meditação e vida espiritual eram Mt 5,1-20 e Lc 6,20-30, todos os dois textos sobre As bem-aventuranças. Dizia aos seus confrades quando lia o Evangelho e invocava o mistério da Encarnação: "Quando lerdes o Evangelho, juntai as mãos e tende um profundo respeito. Esse livro trata do mistério sublime de um Deus que se fez homem por nosso amor".


Homem de admirável penitência


Sua cama, na qual dormia sentado e com a cabeça encostada na parede, era uma pele estendida no chão. A vigília era uma de suas práticas de austeridade mais radicais, sendo por este motivo escolhido como "o Santo padroeiro dos guardas noturnos".


Infelizmente é muito difícil e praticamente, para alguns, impossível recuperar o verdadeiro significado da palavra penitência, no seu sentido original e franciscano, para os nossos dias. Todos sabemos que qualquer movimento autêntico de renovação espiritual na Igreja tem no Evangelho seu código e seu modelo. Neste sentido, Pedro de Alcântara, assim como Francisco, descobre, na vida de penitência, o real caminho evangélico (Mt 3,2; Lc 13,5) como metanóia:"uma conversão que seja ao mesmo tempo teocêntrica (na direção de Deus), ética (fugir do mal e praticar o bem) e afetiva (amor para com Deus)". Resgatando-se, deste modo, o sentido de uma verdadeira vida de penitência, sendo São Pedro de Alcântara uma testemunha extraordinariamente atual de uma pessoa que realizou uma radical inversão de valores, deixando toda uma vida instintiva centrada no próprio "eu", entregando-se totalmente à vontade de Deus: "Ide, caríssimos, dois a dois, por todas as partes do mundo, anunciando aos homens a paz e a penitência". Penitência esta que gera insatisfação com a virtude já conquistada e a necessidade de voltar sempre às origens para progredir. A característica, por essência, de uma verdadeira penitência para Francisco como para Pedro de Alcântara, é a alegria, a alegria interior, humilde e entregue ao amor de Deus. Toda conversão sincera é contagiante e alegre.


São Pedro de Alcântara, de personalidade vigorosa e com o seu temperamento espanhol, apaixonou-se pela austeridade dos Carceri e do Alverne. Tornou-se o mais ascético dos franciscanos e um pregador incansável. Em certo momento vai à sua presença um nobre famoso chamado Conde de Oropesa, que muito se angustiava pelos males de sua época e pela mediocridade dos homens. A resposta do santo se assemelha à de Francisco quando respondeu a quem lhe perguntou se devia ou não repreender um pecador: "O remédio é simples. Tu e eu devemos, em primeiro lugar, ser o que devemos ser; em seguida, poderemos curar o que nos preocupa a nós mesmos. Que cada um faça o mesmo e tudo irá bem. O problema é que todos nós falamos em reformar os outros sem nunca reformarmos a nós mesmos".


A característica (...) de uma verdadeira penitência (...) é a alegria, a alegria interior (...). Toda conversão sincera é contagiante e alegre.


São Pedro de Alcântara manda que cada cela deva ter apenas sete pés de comprimento; que o número de frades em cada convento seja no máximo oito; que andem sempre descalços; meditação diária de três horas e não receber qualquer espórtula para celebrar missa. Era um religioso extraordinário como pregador de missões populares, franciscano de espírito e por convicção; o que possuía era apenas um hábito surrado, um breviário para as orações, um crucifixo tosco e um bastão, companheiro das viagens. Sua alimentação era a mais parca possível e jejuava constantemente. Recusava qualquer condução, indo sempre a pé por toda parte e sempre antes de suas atividades na cidade onde se encontrava, procurava a obediência do Guardião do convento franciscano do local.


Homem de altíssima contemplação


"Ensina ele, com admirável discernimento, que a oração e a vida ativa não são de forma nenhuma incompatíveis, mas que, pelo contrário, uma e outra devem se ligar numa fecunda aliança, e que a segunda é um fruto excelente da primeira". Escolhido como o "ilustre doutor e mestre da teologia mística", pelo Sumo Pontífice Gregório XV e que "manda pintar uma imagem de São Pedro de Alcântara com o Espírito Santo em forma de pomba a lhe instilar nos ouvidos quando escrevia".Título este concedido a São Pedro de Alcântara, não sem merecimento, pelos seus inúmeros frutos à nossa Igreja: seus incontáveis sermões ao povo simples durante as Santas Missões; sua direção espiritual fecunda a religiosos (as) e aos mais carentes; seus escritos que se estenderam a toda a Espanha, à Europa e posteriormente a todas as terras de missão; reforma as Clarissas e a Ordem Terceira de São Francisco; vai a Carlos V e Joana da Áustria, que o desejavam como confessor; sempre a pé dirige-se às famílias, aos pobres e doentes levando-lhes consolo; colabora e auxilia outras ordens religiosas por intermédio de sua amizade com Padre Luís de Granada, Dominicano, com S. Francisco de Borja, Jesuíta, com Santa Teresa D'Ávila, Carmelita, da qual é diretor espiritual e conselheiro na reforma do Carmelo.

Dotado por Deus de um conhecimento intuitivo e infuso, de um senso para as coisas espirituais, de um profundo espírito de oração e contemplação, a sua simples presença era um poderoso sermão. Bastava ele se apresentar em público para realizar muitas conversões. Gostava de modo particular de falar aos pobres, baseando-se sempre nos textos sapienciais e nos profetas do Antigo Testamento. Nunca se deixou impressionar pelo entusiasmo do povo, sempre fugindo para a solidão e o silêncio com Deus.


Possuía apenas um hábito surrado, um breviário para as orações, um crucifixo tosco e um bastão, companheiro das viagens.


Quanto ao apetite pelo fantástico, eis como ele o coloca no justo lugar: "Meu irmão, os êxtases não constituem a santidade. Sirvamos a Deus em espírito e em verdade. Apeguemo-nos às devoções sólidas, pratiquemos a lei de Deus e as boas obras; o resto não é nada. Não alimentemos curiosidades pelas revelações; não procuremos saber as coisas ocultas; leiamos a Sagrada Escritura e não tenhamos outro cuidado senão o de cumprir o que Deus nos manda. É preciso ser pressuroso em ocultar os favores e os dons que Deus nos faz, exceção feita apenas para o diretor espiritual. Por isso S. Bernardo diz que o homem devoto deve ter escrito na cela estas palavras: 'Meu segredo é meu exclusivamente, meu segredo é meu'. É bom que uma pessoa perita na matéria nos diga que a experiência mística muitas vezes não é mais do que um belo precipício".


Certa vez, surpreendido pela noite, bate humildemente à porta de um convento franciscano onde predominava o relaxamento religioso. A pessoa e a santidade de São Pedro eram certamente importunas. Acolhem-no para cobri-lo de insultos e injúrias, cercando-o e ameaçando flagelá-lo publicamente como hipócrita. Frei Pedro de Alcântara, com toda a humildade, se despoja do hábito considerando-se digno das injúrias e ajoelha-se sem dizer palavra. A turma recua diante do corpo descarnado, coberto de cicatrizes e chagado pelo cilício. Retiram-se frios de terror e admiração. Frei Pedro se levanta e retorna o caminho, agradecendo a Deus por tê-lo feito sofrer por seu amor e de seus irmãos.


"A humilhação é o pão dos santos" – gostava de dizer.

"O demônio detesta as vigílias, os jejuns, as orações, a pobreza voluntária, a humildade e sobretudo a superioridade da alma que ama a Deus".


O Reformador


Homem alto de estatura, maneiras nobres, fisionomia regular e simpática, impondo respeito e, acima de tudo, uma energia de ferro temperada com doçura: "Era muito afável, embora de poucas palavras, exceto quando interrogado. Sua conversa era agradável, possuía um espírito encantador". Pregava as verdades fundamentais usando de imagens grandiosas e simples, que todo o povo compreendia: "Imitai os peixes do mar: no meio das tempestades eles não procuram sair do oceano, mas mergulham nas profundezas; assim também, no meio da algazarra e dos desafios do mundo, afundai-vos na contemplação divina".


"Meu irmão, os êxtases não constituem a santidade.

Sirvamos a Deus em espírito e em verdade. Apeguemos-nos às devoções sólidas, pratiquemos a lei de Deus e as boas obras; o resto não é nada".


Mesmo ordenado sacerdote em 1524, e ocupando os mais variados encargos: professor, guardião, definidor e provincial, sua insistência até o fim da vida consistiu em ser Frade Menor, fugindo sempre dos palácios dos grandes, quando solicitado como orientador espiritual e do próprio povo que o louvava como santo ainda em vida. Emtodos os seus trabalhos, ele deu o exemplo mais rigoroso da aceitação dos conselhos evangélicos, como na questão de se usar um único hábito.


O contexto da época de S. Pedro de Alcântara é marcado por grandes conflitos tanto com o protestantismo como com a filosofia humanística nascente. Tudo pedia uma reforma das concepções e formas de ver o mundo e a própria vida religiosa. Com o Papa Leão X, tem-se a necessidade de "uma reforma na cabeça e nos membros", já não bastava mais o exemplo individual, precisava-se de novas formas de ser Igreja no mundo. E para realizar este propósito, Frei Pedro usará energia de aço, começando por sua própria família franciscana.


Frei Pedro deixa sua província de origem, São Gabriel, e inicia o movimento que posteriormente se chamará de "Alcantarinos". Mas esta atitude não foi compreendida pelos seus confrades. Para eles, "ele era um hipócrita, um traidor, perturbador da paz, ambicioso e foram procurá-lo para lhe dizer tudo isso e ele respondeu: 'meus irmãos, concedei-me uma oportunidade para a boa intenção do meu zelo neste sentido, e se estais convencidos de que é melhor que ele não tenha êxito, não poupeis nenhum esforço para interromper esta minha empresa', eles não pouparam nenhum esforço mesmo, mas apesar disso a 'reforma' se difundiu cada vez mais".


Desde então, passou a ser ridicularizado por todos por causa de sua forma de vida mais austera. Quando questionado sobre a pequenez da cela, ele responde: "Por que discutir a pequenez da cela quando o olho repousa nos horizontes sem limites e se tem o infinito por claustro?" Retira-se por um longo período em deserto, no convento de Santo Onofre da Lapa, e estuda com afinco as constituições de sua Ordem religiosa e a Regra do Seráfico Pai Francisco em profunda oração e contemplação, marcando as balizas da reforma e pedindo a graça de Deus para tão ousado propósito. Porém a prova mais dura era no interior de seu coração: ser martirizado pela sua própria família religiosa, a qual tanto amava pelo fervor e a tradição heroica ao longo da história da Igreja e que seu gesto não deixaria de ser visto como presunção, ingratidão e mesmo traição. Passando por cima desses escrúpulos, entregou-se com todo o seu ser à missão que Deus lhe havia confiado.


Procura de imediato a bênção do Papa, que o recebeu friamente, prevenido pelos superiores maiores, pois temia os desvarios que uma ascese fantasiosa traz consigo. A causa parecia perdida quando, na segunda audiência, vendo o Papa o ardor evangélico daquele pobre frade, concede-lhe a liberdade de ação e a abertura de conventos alcantarinos. Quanto ao modo como os frades deveriam se comportar frente às críticas e calúnias, Frei Pedro aconselhava sempre muita humildade e evitar sobretudo as polêmicas estéreis: "A primeira resposta que devem dar aos adversários para confundi-los e aos amigos para confirmá-los é sofrer pacientes e sem murmurações as calúnias e reprimendas. Em seguida podem mostrar-lhes, com ar sereno, tranqüilo, submisso e modesto, a obrigação que eles têm de aspirar à perfeição no seguimento de Cristo e de imitar o Seráfico Fundador".


"Por que discutir a pequenez da cela quando o olho repousa nos horizontes sem limites e se tem o infinito por claustro”?


O heroísmo humano e a santidade destes frades levaram a reforma alcantarina a progredir rapidamente. Chegou a contar 20 províncias, 22 frades canonizados. Lançou missionários pelas terras virgens do Novo Mundo, em especial o nosso Brasil com Frei Henrique de Coimbra..., África, Filipinas, China e Japão, onde o martírio do sangue aureolou o martírio da verdadeira penitência.

Fonte: Santos e Beatos Católicos



São Pedro de Alcântara e Santa Teresa de Jesus (de Ávila)


No decreto de canonização de S. Pedro de Alcântara lemos: "Ele ajudou Santa Teresa com zelo infatigável no estabelecimento da reforma do Carmelo, de modo que, segundo testemunho da virgem ilustre, deve ser considerado como o principal promotor desta reforma. Para tal empreendimento, fez muitas viagens, suportou muitas fadigas e apareceu inúmeras vezes à Santa para aconselhá-la".


Em 1560 ao decorrer de uma viagem, Frei Pedro chegou a Ávila. Santa Teresa ainda se encontrava no convento da Encarnação e, segundo alguns confessores e sacerdotes, ela estava "enganada pelos maus espíritos e demônios". Frei Pedro vai ao seu encontro e a compreende, dissipa suas perplexidades; transmite-lhe a segurança inabalável de que suas visões e orações provinham realmente de Deus e fala com o confessor, sacerdotes e o próprio Bispo dela a favor das mesmas.


Várias vezes retorna a Ávila para socorrer Teresa frente aos eclesiásticos e lhe escreve várias cartas de encorajamento que endereça: "À magnífica e religiosa Senhora dona Teresa de Ahumada, em Ávila, que Nosso Senhor a faça santa". Exorta-a a obedecer mais a Deus do que aos homens, e começa a procurar ele mesmo as primeiras candidatas à nova fundação. Em um texto clássico escrito à Santa ele diz:"Estou admirado que a Senhora está chamando doutos para resolver uma questão que não é da competência deles. As controvérsias e os casos de consciência podem ser da alçada dos canonistas e dos teólogos; mas as questões com relação à vida perfeita não são tratadas senão por aqueles que professam tal gênero de vida. Para se poder tratar de uma matéria é preciso conhecê-la... 'cuidado com' aqueles que pouco confiam em Deus, que seguem apenas regras de prudência humana... Não louvo simplesmente a pobreza, senão aquela que toleramos pacientemente por causa do amor de Nosso Redentor Crucificado, e muito mais aquela que é desejada e assumimos espontaneamente por seu amor.


Por oito vezes em sua Vida, escrita por ela mesma, nos capítulos 27,30,32,35 e 38 asanta menciona Frei Pedro, traça-lhe o retrato, exalta sua intervenção e colaboração a serviço da reforma carmelitana. No dia 24 de agosto de 1562, S. Pedro de Alcântara participa da primeira missa celebrada na capela do novo convento de São José. Nos tempos conturbados que se sucederam, Santa Teresa foi várias vezes fortalecida e confortada por diversas visões (aparições) do santo, que na época já havia falecido.

São Pedro de Alcântara e sua mensagem


O estudo da vida e obra de S. Pedro de Alcântara é uma tarefa árdua, devido às dificuldades históricas de investigação e pesquisa. Graças a Santa Teresa, com seu testemunho pessoal, temos documentos e textos autênticos que revelam um pouco de sua personalidade e espiritualidade. Pois mesmo já sendo reconhecido como santo pela coerência de vida e autenticidade de sua via mística, continuou a ser criticado por sonhar com 'utopias' e desconsiderar a constituição frágil do ser humano, suas limitações e, principalmente, que a Regra de São Francisco não pedia tanto, que os tempos estavam se modernizando.


Aos frades temerosos com sua ausência, após a morte, e com o futuro da reforma, ele os conforta: "Meus filhos, ponham em Deus toda a esperança, é a Ele e a ninguém mais que cabe o direito de cuidar dos frades e de remediar suas necessidades. Ninguém até hoje se viu abandonado por haver confiado n'Ele".


Era festa de São Lucas, Domingo, dia 18 de outubro de 1562, em meio a conselhos sobre a reforma e como conduzi-la, ele admoesta seus confrades: "Meus filhos, recomendo-lhes a pobreza. Jesus Cristo no-la deixou por herança quando nasceu nu no estábulo e nu morreu na cruz. Nosso Pai Francisco no-la prescreveu. Vivam no mundo como pobres e estrangeiros. Ah! Quem futuramente tiver outras maiores pretensões andará enganado!... Que a oração seja seu exercício ordinário. Ela é o fundamento de toda a virtude que devem praticar. Ponham em Deus todos os pensamentos e todos os cuidados. Sirvam-No fielmente. Ele não os abandonará. Falo-lhes de experiência. Tive êxito à medida que confiei na Providência. Não os espante o rigor da vida. Que o calvário que sobem não lhes pareça repugnante ou difícil. Não receiem trabalhar por Deus. Ele lhes dará a coragem da execução. Amem a penitência. Que a Regra seráfica seja o espelho de suas ações. Em toda tribulação consolem-se com as palavras de nosso Pai São Francisco: 'Grandes coisas prometemos, maiores nos estão prometidas'".


Entoaram, os frades, o Miserere, Frei Pedro respondia entre lágrimas. Por fim, arrebatado de amor, ergue-se como se houvesse recuperado as forças todas, ajoelha-se e entoa o salmo 141: "Clamei ao Senhor com minha voz". Tranquilamente, entrega a alma, murmurando o verso: "Alegrei-me quando me disseram: iremos à casa do Senhor". O relógio dava o meio-dia. Frei Pedro estava com 63 anos de idade e 47 de vida religiosa franciscana. É enterrado aos pés do altar da Igreja de San Andrés del Monte, em Arenas.


“Nosso Senhor me disse um dia que nada do que pedisse em nome do seu servidor seria negado: Eu já pedi muitas vezes para ele apresentar a Deus meus pedidos e sempre fui ouvida" (Santa Teresa de Jesus)



São Pedro de Alcântara foi também escritor sacro, com obras de profunda espiritualidade.


Como herança literária, o santo nos deixou a obra intitulada Pequeno Tratado de Oração e da Meditação, que é um de seus textos mais comentado e estudado. Publicado por volta de 1556, traduzido em muitas línguas, marcou época na literatura espiritual. Recomendado por Santa Teresa no capítulo XXX de sua Vida, por São Francisco de Sales e pela rainha Cristina de Suécia, humanista afamada e muitos santos no decorrer da história.


Seu túmulo logo virou lugar de peregrinação e cenário de muitos milagres. O Papa Gregório XV o beatificou no dia 18 de abril de 1622. E Clemente IX o canonizou no dia 28 de abril de1669. A festa, estendida para a Igreja Universal, foi fixada em 19 de outubro.


Santa Teresa escreve no capítulo 27 de sua Vida: "Nosso Senhor me disse um dia que nada do que pedisse em nome do seu servidor seria negado: Eu já pedi muitas vezes para ele apresentar a Deus meus pedidos e sempre fui ouvida".

Conclusão


Hoje, com toda a nossa perspectiva histórica, com a valiosa contribuição das ciências humanas e da Teologia, temos muito que questionar sobre o radicalismo deste santo, ou até mesmo, muitos diriam, desumano em seu ascetismo radical. Mas não seria o caso, tirando os excessos, de questionarmos nossos pré-conceitos contra os personagens do 'passado', nós os 'modernos'? Na situação histórica atual, não se pode negar que o elemento basilar da vida humana que se deve privilegiar, é o empenho ascético, no real sentido desta palavra, concreto e diário, para uma conduta pessoal autêntica e um estilo de vida comunitário conseqüente. Não devemos, no entanto, confundir ascese – em sua expressão de uma verdadeira vida de penitência – com "mortificação", pois ao observarmos com ternura a vida de São Pedro de Alcântara, encontraremos escondida uma imagem humana plenamente positiva, transparecendo o convite que todos nós podemos trabalhar a nossa natureza, e não estamos entregues irremediavelmente aos nossos instintos ou àquilo que viemos a ser através dos condicionamentos da sociedade ou da educação. Outra lição do nosso santo é que toda penitência evangélica se ordena à caridade: amor a Deus e ao próximo como sentido pleno de uma vida humana, exigindo uma verdadeira e incondicional adesão e radicalidade à pessoa de Cristo. Sabemos o quanto é difícil esta realidade em nossa cultura atual com a valorização excessiva da liberdade, da vontade pessoal, do corpo, da auto-realização, onde aplaudimos o triunfo do poder, do bem-estar, da soberba, da tirania e da prepotência das paixões. São Pedro de Alcântara nos faz, neste contexto, um forte questionamento: não será uma triste realidade a abundância de nossas fraquezas e fragilidades ao não sabermos mais como encontrar um sentido para nossas vidas?


São Pedro de Alcântara ao mesmo tempo nos transmite e convida à excelência da mensagem cristã, pois que: "Ao longo dos séculos, nunca faltaram homens e mulheres que, dóceis ao apelo do Pai e à moção do Espírito Santo, escolheram este caminho de especial seguimento de Cristo, para se dedicarem a Ele de coração 'indiviso'".


Que Deus nos dê a graça de hoje, assim como São Pedro de Alcântara e tantos outros santos anônimos da América Latina, respondermos à nossa vocação com todo o coração, não temendo as críticas ou erros de nossa condição histórica e, assim como eles, sermos verdadeiros em nossa entrega, pois como está escrito: "Nosso Deus é um fogo devorador" (Hb 12,29).


Que nossa Mãe Maria Aparecida e São Pedro de Alcântara nos abençoem e a toda a nossa Igreja no Brasil, e fortaleçam o testemunho de toda esta imensa Família Franciscana difundida por todos os recantos deste nosso país, nas comemorações destes 500 anos, "pois não temos apenas uma história gloriosa para recordar e narrar, mas uma grande história a construir".

Datas importantes referentes ao Brasil

1826 – 31 de maio: Leão XII proclama São Pedro de Alcântara Padroeiro do Brasil, com festa e oitava litúrgica.


1829 – 19 de março: solene proclamação na Capela Imperial Brasileira, inauguração e bênção da imagem do Padroeiro e pregação de Frei Francisco de Monte Alverne.


1843 – 16 de março: D. Pedro II, por um decreto, demarca o terreno da futura Petrópolis/RJ, para uma Igreja com a invocação de São Pedro de Alcântara.


1846 – Criação da Paróquia de São Pedro de Alcântara, Petrópolis, RJ.


1876 – 12 de março: lançamento da pedra fundamental da futura catedral gótica de São Pedro de Alcântara.


1946 – 13 de abril: criação da Diocese de Petrópolis. A Igreja de São Pedro de Alcântara torna-se catedral.



MARTIROLÓGIO ROMANO

19/10


1. Os santos mártires João de Brébeuf, Isaac Jogues, presbíteros, e companheiros, da Companhia de Jesus, no dia em que São João de la Lande, religioso, foi assassinado pelos pagãos do lugar em Ossernenon, hoje Auriesville, nos Estados Unidos da América do Norte, onde, alguns anos antes, tinha alcançado a coroa do martírio São Renato Goupil. Neste dia são também venerados conjuntamente os seus santos companheiros Gabriel Lalemant, António Daniel, Carlos Garnier e Natal Chabanel, que, no território canadiano, em dias diversos, morreram mártires, depois de muitos trabalhos na missão entre os Hurões para anunciar o Evangelho de Cristo aos povos desta região.

(† 1642-1649)


2. São Paulo da Cruz, presbítero, que, desde a juventude se distinguiu pela sua vida de penitência, zelo ardente e, movido pelo singular amor a Cristo crucificado, que ele via nos pobres e enfermos, fundou a Congregação dos Clérigos Regrantes da Cruz e Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo; o aniversário da sua morte ocorre no dia dezoito de Outubro.

(† 1775)


3. Comemoração de São Joel, profeta, que anunciou o grande dia do Senhor e o mistério da efusão do seu Espírito sobre toda a criatura, que a majestade divina realizou admiravelmente em Cristo no dia de Pentecostes.


4. Em Roma, a comemoração dos santos Ptolomeu, Lúcio e outro companheiro, que, como refere São Justino, reconhecidos como cristãos por terem repreendido os costumes licenciosos e a injustiça nas sentenças, foram condenados à morte pelo prefeito Lolo Urbico no tempo do imperador Antonino Pio.

(† c. 160)


5. Em Óstia, no Lácio, região da Itália, Santo Astério, mártir.

(† c. s. III)


6. Perto de Sens, na Gália Lionense, atualmente na França, a comemoração dos santos Sabiniano e Potenciano, que, segundo a tradição, foram os primeiros pastores desta cidade e consumaram a confissão da fé com o martírio.

(† c. s. IV)


7. No Egito, Santo Varão, soldado, que, no tempo do imperador Maximiano, visitando e prestando auxílio a seis santos eremitas encarcerados, ao saber que o sétimo tinha morrido no ermo, quis ocupar o seu lugar e, depois de crudelíssimos tormentos, com eles recebeu a palma do martírio.

(† 307)


8*. Em Oloron, junto aos Pireneus, na Aquitânia, hoje na França, São Grato, bispo, que, no tempo de Alarico, ariano rei dos Godos, participou no Concílio de Agde para restaurar a Igreja nessa região da Gália.

(† d. 506)


9. Na Bretanha Menor, também na atual França, Santo Etvino, monge, que levou vida solitária.

(† d. 589)


10. Em Cavaillon, na Provença, hoje também na França, São Verão, bispo, que era dotado de grandes virtudes, especialmente na assistência aos enfermos.

(† s. VI)


11. Em Evreux, também na Gália, hoje na França, Santo Aquilino, bispo, que, como se narra, era soldado e praticava boas obras; com o assentimento da sua esposa, fez voto de continência e foi eleito bispo desta sede.

(† c. 690)


12. Em Oxford, na Inglaterra, Santa Fridesvida, virgem, que, sendo de estirpe régia e eleita abadessa, dirigiu dois mosteiros, um de monges e outro de monjas.

(† 1257)


13*. Em Biville, próximo de Cherburgo, na Normandia, região da França, o Beato Tomás Hélye, presbítero, que passava os dias no exercício do ministério pastoral e as noites em oração e penitência.

(† 1595)


14. Em Londres, na Inglaterra, São Filipe Howard, mártir, que, sendo conde de Arundel e pai de família, caiu em desgraça perante a rainha Isabel I por ter abraçado a fé católica e, por isso, foi metido no cárcere, onde, admiravelmente entregue à oração e penitência, mereceu alcançar a coroa do martírio, consumido pelas privações e tormentos.

(† 1633)


15. Em Nagasáki, no Japão, os santos mártires Lucas Afonso Gorda, presbítero, e Mateus Koyioye, religioso, ambos da Ordem dos Pregadores: o primeiro trabalhou antes nas Filipinas e depois no Japão, onde foi ministro ardente do Evangelho; o segundo, de dezoito anos de idade, foi seu companheiro na propagação e no testemunho da fé.

(† 1634)


16*. Em Langeac, junto ao rio Allier, na França, a Beata Inês de Jesus Galand, virgem da Ordem dos Pregadores, que foi prioresa do seu convento e se distinguiu pelo seu amor ardente a Jesus Cristo e pela dedicação à Igreja, oferecendo contínuas orações e penitências pelos seus pastores.

(† 1634)


17♦. Em Wloclawek, na Polónia, o Beato Jorge Popieluszko, presbítero da diocese de Varsóvia e mártir.

(† 1984)

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